segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Escrever me é tão necessário


Não mate a poesia 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
A poesia é real, pura, concreta como são concretas as aves que abrilhantam o céu. A poesia faz-se de sentir, por isso ela é urgente, impaciente, mas também eloquente. Ela gosta do toque, precisa de mãos a sustentá-la, carece do abraço apertado no qual o calor emana dos corpos para se mesclar ao instante mágico do afeto. A poesia é palavra ardente, repleta de desejos que as circunstâncias a fazem ocultar e camuflar em versos adocicados que, embora sinceros, escondem o vulcão que tanto deseja ir à superfície. A poesia existe e está totalmente voltada a você. Não a mate! Não a rejeite! Não deixe que os versos ousados e sensuais deem lugar a um fazer poético triste e muito melancólico. Não, não mate a poesia. Todos os poetas a buscam e ela escolheu pousar em você.


Desbotada 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Sentou-se diante do espelho e foi, pouco a pouco, cobrindo sua face com maquiagem. Nos olhos passou uma cor bastante chamativa. Mudou de ideia e, na boca, não quis passar o carmim tão característico, preferiu deixá-la assim, porque o espelho sabe que não há motivos para colorir.



Mudanças 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
No varal, roupas dançavam com o vento; no rosto, o sorriso desaparecia com o tempo.


Onírica 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
A noite já havia dado lugar à madrugada. Num extenso colchão ela descansava seu corpo perfumado e solitário. Havia no ar um clima agradável, um silêncio característico da hora e uma escuridão tão desejosa. Em devaneios, ela sentiu-se abraçada. Nas mãos sentia o calor das mãos a que tanto desejava. Suas pernas estavam entrelaçadas com as dele. Os pés tocavam delicadamente os pés de seu companheiro. O quadril encaixava no corpo dele como peça única de um jogo raro. Ela continuou deitada. Não ousava se mover porque não queria deixar de sentir o calor daquele homem. Num ímpeto abriu os olhos, percebeu que seu instante mágico era sonho. Voltou a fechá-los e desejou mais uma vez ter seu sono invadido por aquele onirismo sedutor. Não sonhou de novo, mas se lembrou, tudo já fora real. Mas ainda assim, de seus olhos saltaram algumas lágrimas insistentes e de seus lábios um sorriso doce junto com a certeza de que haverá um tempo em que sonhos serão perfumados e se esvairão dando espaço apenas a uma doce realidade.


Devagarinho 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Devagarinho, ela descortinava sentires tão incômodos, ia aos poucos montando um quebra-cabeça que só ela poderia montar. As peças, certas ou não, eram colocadas em seu coração.

Nostálgica
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Enquanto visitava um álbum amarelado de fotos, tirava casquinhas da saudade.



Notas sobre o sorriso 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O sorriso é instante. Instante mágico em que a sensação de plenitude é superior a qualquer outra. Por detrás do sorriso, podem ser camufladas tristezas que só cabem a quem as sente. Os lábios não precisam de tristeza, carecem de grandes sorrisos.


O sonho 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O sonho prateado que ela nutria tornou-se concreto quando seus olhos cruzaram o horizonte.


Quando 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
É quando olho no fundo dos seus olhos que confirmo meu sentir. É quando toco em suas mãos que me deparo com o porto onde desejo ancorar as minhas. É quando ouço seu falar doce e manso que atesto ser sua voz aquela que acalma meu coração. É quando aprendo com você que me deslumbro com a infinidade que me tem a ensinar.


Sob os lençóis 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Receosa estendeu o corpo de modo que ficassem lado a lado. Sem se tocarem, a intensidade do calor era tanta que ela sentia seu corpo em chamas. Foi assim por um longo tempo, movimentos e, pouco a pouco, os corpos se encaixaram, como um quebra-cabeças que estava a esperar a sua peça mais complexa. Encaixados, havia calor, havia suor, havia desejo. Em instantes houve o delicioso sentir do amor. Os lençóis testemunharam de uma febre intensa e deliciosamente provocante.



Com os pés no chão
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Onde piso é solo firme, ainda que soe arenoso e movediço para alguns. Meus pés trazem a areia firme, areia histórica em que também teci uma pequena grande história. Agora, já de volta à terra roxa, ainda sinto grãos de areia entre meus dedos e sinto, acima de tudo, a Bahia a habitar soberana dentro de mim juntamente com o Sol que há muito rendeu meu coração.


Das loucuras e conjecturas... 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Lúcida ou insana, não sei, o que vi foi pouco, mas suficiente para registrar neste pequeno espaço. Da janela, ela olhava o horizonte. Lembrava de cenas, de situações reais, de ilusões. Pensou em tudo o que estava ao seu dispor. Mas pensou mais ainda no que lhe era escorregadio. Abriu uma cerveja e brindou a alegria fugitiva, o sorriso forçado, o abraço imaginário e a solidão. Ergueu a lata daquela bebida que a fazia sentir-se tão masculina e, de um só gole, devorou quase todo o conteúdo. Depois, enquanto o álcool percorria seus poros e a colocava num estado de meio alegria, ela gargalhou. Lembrou-se de todas as artimanhas que fizera para estar ali. Lembrou-se de todas as ousadias. Coisinhas compradas que tiveram de ser discretamente guardadas. Bem, corrigiu-se, muito bem guardadas. Mas ela era maior. Lembrou-se disso e gargalhou uma vez mais e num último gole tomou a cerveja para logo abrir outra e outra. À medida que bebia, as gargalhadas foram minguando. Dentro dela emergiu um choro que já há muito estava lá. Pensou no amor e chorou. Pensou na vida e chorou. Teve tempo ainda de pensar em sonhos. Não se esqueceu de sonhos tão perfumados que tivera, tampouco daqueles tão envoltos em uma sensualidade provocante. Tocou seu rosto, seu corpo, mas nada de sensual pôde encontrar. As lágrimas vieram aos montes. Oxalá ela pudesse seca-las para sempre. Mas alguém pode? Pensou. Ficou ali ainda por muito tempo na janela. Contei pelo menos três cervejas, uma meia dúzia de gargalhadas e muitas lágrimas a rolar. Se eu fosse poeta, ah se eu fosse poeta.... iria até ela e a tomaria em meus braços para sempre. Sonhos não têm perfumes, mas ela é o sonho às avessas, perfumada e doce, poesia triste e feliz, materializada em mulher.



Eu e a cidade 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Tu és de uma beleza singular. Beleza esta moldada há séculos por mãos humanas. Diante de suas históricas edificações, quedo-me sem palavras e me ponho a contemplar cada detalhe, cada miúdo ponto de cor que faz de seus espaços, lugares de beleza rara, de História viva e de infinita magnitude. Por mãos divinas teu mar foi tecido. Como tela, ele completa a paisagem e avisa aos seus moradores e visitantes que em todos os pontos ali ele estará, a nos brindar com a força da água abençoada por todos os santos.



A história e a memória
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Tenho invadido suas ruas, tomado para mim seus detalhes e suas belezas, tenho adentrado cada parte sua e buscado em minha memória o que sei sobre você. Acreditava saber, agora entendo não saber nada. Sedutora cidade de seus turistas ingênuos que aqui veem beber de suas belezas. Gozadora cidade daqueles que creem conhecê-la nos livros. Indefinível você, mãe de nossa história, mãe de nossas raízes a me ensinar que daqui emana a essência daquilo que chamamos cultura e daqui brotam as raízes que nos tornam um povo alegre e feliz.



O oco da sereia 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Se as sereias existem, nunca saberemos, mas lendas sobre elas há aos montes. Em Salvador, há um lugar encantado, pois, por entre as pedras, há um oco e nele as sereias habitam. Quedei-me por um instante lá e foi impossível não imaginar que belo seria me deparar com uma delas e mais belo ainda seria se elas se deparassem com os namorados que ficam nos bancos de pedra próximos ao oco. Por certo, as namoradas não iriam gostar, já que as sereias são mágicas e, justo por isso, andam a encantar gente como eu que, ao se deparar com este encantado lugar, vislumbra-se com a simples possibilidade dessas mulheres de canto enigmático existirem. Imaginem vocês como ficariam esses rapazes enamorados....



Os sinais 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
A vida é uma narrativa da qual somos o narrador personagem. Ao escrevê-la, lançamos mão de instrumentos e recursos vários, e desejamos dar a ela sempre um novo capítulo. Página a página vamos construindo uma fábula, a qual queremos sempre a mais bela, a mais doce e leve.
Minha vida já é um livro extenso. Nele tive de reinventar-me como personagem que passa do papel secundário ao principal em instantes. Ao tecer minha narrativa, para alguns personagens, coloquei um ponto final; para outros, um ponto e vírgula ou apenas uma vírgula.
Porém, sempre há o personagem que julgamos eterno, aquele a quem não desejamos atribuir pontuação nenhuma, desejamos a continuidade. Só que esquecemos: os personagens são autores de sua própria história e, ainda que eu não queira um ponto final, nada posso fazer.
O dia rompe como uma página em branco em que construo e reconstruo minha história. Posso nessa página tornar tudo diferente como narrador personagem que sou, mas dependo de outros personagens e ocorre de um deles não desejar dar continuidade à narrativa.
Então, pego outra folha e, sozinha, inicio um novo capítulo. Se quero? Não quero começar sozinha. Se posso? Sim, sou capaz de juntar cada elemento narrativo e construir a mais linda das fábulas. Se consigo? Não posso por um ponto final onde há espaço para vírgula. Mas posso deixar a página em branco e permitir que o meu amadurecimento vá, aos poucos, incumbindo-se de alimentar cada espaço em branco, cada lacuna a indicar o vazio, até que um dia caiba na página somente o ponto final.



O toque 
(por Claudia Vanessa Bergamini) 

O beija-flor, ao tocar a flor, é tão sutil e delicado que ela apenas se rende ao doce contato, ofertando a ele o melhor que há em sua essência.



No palco 
(por Claudia Vanessa Bergamini) 
Quem pode medir o que sente o outro? Quem pode precisar se alguém tenha ou não sido sincero no falar e no agir? Ao sentar junto à plateia não se pode mensurar o esforço feito para que o espetáculo de fato acontecesse. Neste momento, o protagonista é quem brilha, pois, infelizmente, o ator secundário é mero coadjuvante de um show que, não fosse ele, jamais existiria. No fundo, o pobre ator sabe o que fez e conhece os motivos que o levaram a se empenhar tanto para que sua atuação fosse a melhor. Porém, o esforço foi vão. Brilho tem o protagonista, cheio de certezas, de saberes e imposições. Resta àquele sair de cena. Os holofotes já se apagaram e somente ele, pobre ator, quedou-se no palco. Quando entendeu que terminou, chorou, sofreu e sentiu a dor de ser mero coadjuvante.


À la dérive
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Em um pote imaginário, colocou todos os seus sonhos, suas crenças e desejos, saiu caminhando devagar e até hoje não conseguiu encontrar a si mesma.



Em Branco 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Porque queria esquecê-lo, decidiu que seu tempo seria para ler e escrever. Ficou por minutos em uma única página, a leitura era feita por olhos que liam o que a mente nem imaginava do que se tratar. Tomou da caneta para escrever, mas não pôde. Dias sem Sol, dias de dor, dias de tristeza merecem ficar ocultos dentro do peito.



O que será? 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)

Quando o amanhã chegar será incerto, não porque é futuro, antes, porém, porque é o amanhã que vem fazendo e desfazendo-se dentro de mim.




Ilustres somos nós! 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Os quadros estavam espalhados por todo o espaço. Aos montes, eles tinham duas funções. A primeira, fazer o hóspede tomar conhecimento sobre quais personalidades já passaram por aqui. A segunda fazer com que hóspede reconheça a importância do lugar. De fato, é um hotel agradável. Para uma cidade com pouquíssimos habitantes, é excelente. Porém, os ilustres cantores e duplas sertanejas que por aqui passaram nada mais foram do que hóspedes. Ser ou não ilustre está dentro de cada um de nós. Os cantores são figuras públicas. Alguns, seres humanos fantásticos; outros, seres humanos mesquinhos e envoltos em uma infinita pequenez. Nós, hóspedes que passamos despercebidos, somos ilustres, haja vista que quem conosco convive conhece nossas duas faces. A magnífica e a mesquinha. Sem máscaras, somos o que somos, sem palco, sem holofote, mas com um show a cada dia, pois viver é um belo espetáculo do qual somos os ilustres protagonistas.





O galo 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Sou cosmopolita, adoro concreto! Não que não goste da natureza. Porém, ainda que tenha crescido em uma chácara, o que me encanta mesmo é a cidade, seus labirintos misteriosos, sua noite agitada, sua manhã nevrálgica. Hoje fui despertada antes das seis da manhã pelo canto de um galo. Há muitos anos não ouvira esse canto. À medida que me virava na cama e constatava que o corpo ainda pedia mais dela, rendi-me à melodia galinácea. Com que autoridade o galo anunciava a chegada de um novo dia, com que audácia ele avisava a todos que, por sua determinação, era hora de levantar. As outras aves não eram capazes de exprimir uma nota sequer, porque o majestoso tenor invadira o silêncio de Iguaraçu com sua melodia. Enquanto ele cantava, revivi em meu coração instantes únicos de uma infância longínqua, quando ainda nem sabia o que era concreto. Lembrei-me de que em mim, em algum lugar, resta ainda uma saudade do canto de outrora, do galo soberano que me acordava. Amanhã, terei um despertador digital a me lembrar dos afazeres do dia. Todavia, o canto de hoje estará vivo em mim.

Eu faço 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)

No caminho, deparo-me com pedras... 
que tolas elas são, sequer imaginam que minha determinação irá fazer com que sejam apenas pedregulhos...  


Poetar 
( por Claudia Vanessa Bergamini)

A pedra sempre aparece no caminho. 
A tristeza insiste em permanecer. 
Solidão não acaba com conversa fiada, rápida, sonolenta. Viver exige paciência. 
Que se dane a paciência!
Estou em dor é agora. Estou em mim mesma é agora.
Cuidados....uma pilhéria.
E a noite avança....
E o poeta cansa...
vem de um cansar longínquo....
vem de uma ausência insistente...
vem de um vazio enraizado...
Agora....Agora! 
Estados incertos, amor tão certo, uma dor tão real. Então, um brinde.... Não se assuste, apenas um brinde à noite tão melancólica e à cerveja que invade o cérebro e ainda assim ele pode conjecturar!


A pipa solitária 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O Sol me visitou ao final do dia, um azul sereno e limpo estampou o céu e poucas nuvens de um branco puro bailavam ao vento suave. Em tardes assim, minha rua era um lugar sonoro, alegre, pois à época das férias, os meninos ajudavam a colorir o céu com suas pipas.
Lembro-me de muitas vezes recolhê-las em meu quintal. E eles vinham gritando ao portão: "Dona, pega meu pipa". Eu respondia: "Pipa é substantivo feminino, a pipa". Devolvia e eles seguiam em busca do universo celeste.
Os dias, porém, são outros. Os meninos da rua cresceram, as vontades mudaram, e o silêncio de uma rua sem crianças impera soberano. O céu ainda se mostra tão convidativo, mas ao olhar para ele, deparei-me com uma única pipa a dançar, como eu, solitária por entre a imensidão.
Foto: A pipa solitária, céu da minha rua, às 18 horas de 28 de dezembro de 2015.





O jantar
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Ela chegou ao restaurante e se sentou solitária em uma mesa no centro do salão. Usava um vestido vermelho, sandálias pretas, uma delicada bolsa preta de mão em couro. Os cabelos escuros contavam com uma parte presa por uma presilha de pérolas, compondo um harmonioso conjunto com o colar e os brincos também de pérolas. A boca era carmim, os olhos maquiados e bem contornados. A bochecha trazia um toque leve de um rubor provocado pelo blush.
O seu semblante era cansado. Os olhos denunciavam lágrimas insistentes; porém, aqueles olhos tinham um brilho que lhes era peculiar. As mãos de unhas escarlates eram delicadas e macias e, ao olhar para elas, a mulher se lembrava há quanto tempo não sentia a segurança de outra mão na sua. Escolheu um prato leve, pediu vinho e não brindou, embora tenha levantado discretamente a taça para desejar a si mesma dias em que ela pudesse se sentir um ser humano melhor.
Ao passo que degustava o sabor do prato, sentiu-se observada. À sua esquerda, um solitário cavalheiro admirava-a com atenção. Ela se incomodou, sua privacidade fora invadida, mas ao mesmo tempo, um sentimento de alegria lhe tomou, porque gostou de saber que estava sendo observada.
Findado o jantar, fez menção ao garçom, pois desejava escolher uma sobremesa. Neste momento, o garçom lhe informou que haviam escolhido uma para ela. E trouxe então à mesa sem mencionar quem fora. Ainda que ela deduzisse ter sido o cavalheiro solitário, nada perguntou ao garçom; porém não recusou o doce que ele colocava à sua frente. O garçom entregou-lhe um pequeno bilhete, no qual ela leu: "Poucas são as pessoas de presença tão marcante como a sua. Me ligue, ansioso." O bilhete trazia um número e a assinatura com o nome. Ao olhar para a mesa onde estava o cavalheiro, ele já se levantara, olhou para ela e deu um sorriso discreto e carinhoso.
Passou por detrás de sua mesa e tocou-lhe levemente o ombro. A mulher sequer provou da sobremesa, ficou ali a pensar e a imaginar quem seria aquele homem. Olhou tantas vezes ainda para o celular, há horas que aguardava a mensagem de quem de fato era o dono de seu coração, recebê-la era para ela tão caro. Mas não veio. Guardou em sua bolsa o pequeno bilhete e voltou para casa ainda mais sem rumo do que antes.
Naquela noite, não pôde dormir. A vida estava lhe apresentando talvez uma oportunidade de ter alguém que pudesse seguir ao seu lado. Lembrou-se das horas de espera pela mensagem, lembrou-se das noites em que solitária desejou o calor do outro ao seu lado, lembrou ainda do que havia em seu coração e isso pesou demais, porque sabia, o que o homem supostamente tentaria lhe oferecer, ela já havia encontrado de uma forma rara e única. Decidiu ir até a cozinha, rasgou o bilhete, colocou dentro de um prato e pôs fogo no pequeno papel. 
Sabia desde o início que, ao menos desta vez, faria a escolha certa para a sua vida. As possibilidades quando se faz uma escolha coerente são bem maiores, o tempo pode fazer acontecer coisas fantásticas, mas a escolha equivocada pode trazer de imediato dor e sofrer. A mulher encolheu-se na cama como quem tenta abraçar a si mesma. De seus olhos, as mesmas lágrimas insistentes chegavam com furor, o coração inquieto respeitava o que dizia a boca quase num sussurro: “tenha paciência”.

Microconto
(por Claudia Vanessa Bergamini)

A cada passo que dou, imagino se será o início de um grande voo ou mais uma vez a realidade de um tropeço.
Lacunas 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O dia corre lento,
uma chuvinha boba insiste em cair,
o cinza do céu chega até o quarto,
deixando-o bastante melancólico.

As luzes do Sol que não brilhou hoje
deixam lacunas nos lugares que somente elas poderiam estar,
a ausência do calor do Sol que não chegou
deixa ainda mais frio o ambiente
que somente ele é capaz de aquecer.

Lacunas são vazios,
são ausências,
são supressões que o decorrer do tempo faz existir.

Às vezes as lacunas são tão grandes
que são incapazes de serem preenchidas.
E, quando se perde alguém, o vazio é ainda maior.

Lá no íntimo se sentem os malefícios da perda,
a dor que a ausência provoca,
a tristeza que o vazio causa.

Escolhas provocam perdas, provocam mudanças.
Mas disse certo poeta que há sempre tempo para o recomeço,
há sempre tempo para uma nova oportunidade.
Ela virá? Não há resposta senão uma lacuna de silêncio.

E na perda, reconhece-se o quanto se necessita do outro,
reconhece-se o quanto ele é necessário.
Quando se cativa alguém que é como bicho
que nunca soube ser cuidado,
que nunca soube receber carinho,
é preciso ter em mente que a ausência provocará no bichinho uma lacuna ainda maior.
Um dia ele vai respirar, ele vai levantar,
caminhará altivo pela estrada,
por ora.,ele é cinza,
ele é dor,
ele é lacuna
de um espaço que só o Sol é capaz de preencher.


Eu corredora 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Quando corro, sinto a liberdade em meu rosto, o vento anuncia que posso superar obstáculos, superar a dor, o cansaço, a sede. Quando eu corro, eu deixo para trás os problemas, eu esqueço daquilo que me aflige, aborrece, sufoca, esqueço o que faz doer. Quando eu corro, minha mente trabalha para o meu corpo, incentivando-o a ir além. Minhas pernas são comandadas pelo querer do cérebro que avisa com veemência: vá. E essa ordem é deliciosamente obedecida e, quando vou, sinto-me viva e descubro como correr me faz feliz e me faz quem eu sou.



À procura da verdade 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Verdade é algo raro, bem difícil de encontrar,
às vezes até acredito que em alguém ela possa estar.
Não que eu seja tão perfeita, pois dela me privo também,
mas quando o assunto é amor, não nego a verdade a ninguém.
Um texto é somente um texto, mas se digo que fiz a você,
ora, sou poeta de instante
e só faço um poema a quem julgo merecer.
Se a verdade me escorre dos lábios em momentos,
sei bem o prejuízo que terei,
viverei dias de tormento.
Se a verdade chega a mim e depois descubro não ser,
de igual maneira só me resta em tormento padecer.
Palavras têm força e poder, criam um mundo de imaginação, portanto, não me venha com textos rabiscados para outras. Não!



Meu coração não é de plástico
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Arde em mim um amor estranho,
um sentir indevido que há tempos me atormenta.
Não sei porque o amor se mostra tão dolorido.
Difícil é amar e não sentir angústia!
De doce, o amor só tem o nome,
de resto, é tenso, amargo, triste.
Ao mesmo instante em que faz o corpo tremer,
a carne arder, o desejo incandescer,
o amor faz corações partidos,
os corpos sofridos,
atordoa a mente
e transforma o cansado coração em nada mais que um plástico,
sem vida, sem pulsar energizante, sem desejos atrevidos, sem delírios estonteantes.
De plástico é o coração que ama,
tem de suportar outros amores, assistir a horrores, padecer sempre em dores,
até que um dia se liberte e deseje ser muito mais do que o plástico.
Assim é o meu coração,
ele é vivo, pulsa, passa por ele um sangue a ferver,
passa por ele desejos maduros, lágrimas pueris,
vontades femininas e um medo muito grande de te buscar e não te encontrar,
O plástico não é perene,
assim como não são as inverdades que se colocam.
A cada dia, tenho feito meu coração de carne, de sangue, de vida,
minha fragilidade tem dia e hora para findar.
Estes ainda estão incertos, mas acontecerão,
pois de plástico não quero meu coração...



Por que escolhi poetizar?
(por Claudia Vanessa B
ergamini)
Nem sempre doce é a vida,
muitas vezes ela se mostra bem amarguinha.
De pequena, conheci esse sabor amargo,
sabor acre, sabor de fel...
E foi ainda menina que encontrei a poesia.
Chegou até mim por mãos queridas
e por palavras de um grande poeta.
Com Bandeira aprendi a exprimir, com palavras, a dor,
aprendi a falar do amor, assim como descrever meu cotidiano tão pequeno.
Foi lendo poesia que aprendi que muito do que passava deveria ficar trancado numa gavetinha secreta, cuja chave nem mesmo eu a detinha.
E depois, com palavras, tentava dizer ao outro sobre as dores, os horrores, as vontades, as obrigações.
Mas ler poesia não é para qualquer um e, por isso, nem mesmo eu dizendo tanto do que comigo se passava fui compreendida.
Foi lendo poesia que entendi que se pode sorrir quando se quer chorar,
que se pode simular a vida alegre e perfeita a que tantos cobiçam,
que se pode levar anos a descobrir a verdade, porque somente se desvenda quando se tira da vida o doce verso e se coloca a prosa real.
É... a poesia me ensinou a ser simulacro!
Ensinou-me a ser doce, porém impaciente,
pois à mesma ligeireza com que colocava no papel os meus sentires, gostaria também que eles se tornassem concretos.
De menina, nada mais tenho,
talvez algum resquício tenha ficado porque, como criança, as lágrimas me vêm com muita facilidade.
Da menina que nunca fui, sinto mesmo uma eterna saudade.
Uma vontade de nascer de novo e me permitir aos nove anos somente correr com pés descalços pela terra pisada,
subir em árvores e colher delas as frutas, cujo sabor é por demais especial quando se é criança.
Nos devaneios de minha memória, ouço ainda uma voz que brinca de balança-caixão ou de salada de frutas, esconde-esconde, amarelinha,
mas sempre há um grito a sobrepujar essa voz.
Então, volto de minha saudade daquilo que não vivi,
retorno a alguns pesadelos tão reais
e tenho certeza de que a poesia é quem foi de fato minha melhor amiga,
foi e é por meio de palavras que mantenho resquícios de uma pouca sanidade,
são palavras que não me deixam tão sozinha,
posso escrevê-las em minutos,
não as apago porque as amo.
Se escrevo, estou viva, porque nem mesmo o amor tem me mantido com o coração a pulsar.
Por que escolhi poetizar?
Ora, porque a poesia sacia minha fome do outro,
mata o desejo do carinho que não recebi, do abraço que ainda espero, da mão que não segura a minha, da impaciência que me consome.
E quando me ponho convivendo comigo mesma, é na poesia que me encontro e, não raras vezes, deparo-me com aquilo que me é tão essencial, o amor.


E agora? 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Sem cor passaram as horas, sem vida o dia tem se findado, agora que adentra a madrugada um mal-estar tem me acompanhado. Pergunto-me: de fato vale a pena? A poesia, de pés no ar e cabeça a vagar, responde sim, valerá. Porém, ao longe, a face apolinea contesta: escute, menina, é hora de acordar.


Amor submerso
(por Claudia Vanessa Bergamini)

O médico aponta um problema,
dor de amor pode ser mortal.
Quando se vive um dilema
o melhor é não sair do normal.
O corpo parece não vencer a dor,
a mente procura reagir
mas o coração a isso não dá valor,
estranho, mas como do amor fugir?
Horas e horas no quarto trancada,
perguntas, respostas, questões à deriva
por que a vida ficou tão complicada
se antes bastava ser somente uma diva?
Os dias não têm mais a cor de antes,
a hora demora ser vencida pelo relógio,
se o passado era apenas curtir as nuances,
o presente tornou-se somente eucológio.
Repetições de preces e palavras ao vento,
parece-me que nunca chegará o momento,
em que olhos verei e calor sentirei
e aos seus braços de bálsamo me entregarei.
Se de rimas agora componho estes versos
não pense que gosto dessa batida constante,
meu desejo limita-se que nesse instante
chegue a você meu amor submerso.

Jardim sem rosas
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Se no jardim só houvesse rosas, um bouquet eu colheria.
Passeio por entre as plantas e vislumbro apenas folhagens, 
algumas lindas, mas elas têm somente cor, não exalam perfume,
tampouco me presenteiam com cores vivas e alegres.
São apenas folhagens, cuja beleza se limita aos tons de verde,
cujas folhas se limitam a serem observadas.
É, de fato, folhagens não são como rosas.
Estas incitam o toque,
incitam o olfato,
incitam o coração a desejar.
Saudade tenho de meu jardim com rosas amarelas.
Tão singulares e convidativas que delas não poderia me desprender.
Agora, não há mais jardim de rosas amarelas, deixei-as morrer e com elas matei muitos de meus sonhos.
No ar, não restaram em meu jardim o perfume das rosas e nem os sonhos que matei.
Porque lembro a todo instante que sonhos não têm perfume.


O perfume 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Quando ela passa, o ar fica tomado por seu cheiro. Não é um perfume qualquer. Ela exala o doce momento do êxtase, de seu corpo incendem os aromas mais sensuais, que permitem à mente inquieta imaginar, sonhar, devanear.




A menina sonha 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

O Sol abrilhantava ainda mais a paisagem... O horizonte eram planos, sonhos, perspectivas infinitas de um amanhã a florescer.
O Verde que ajudava a emoldurar a beleza natural era também a cor que tanta esperança trazia aos olhos daquela menina. Assim tão pensativa, assim tão confiante, ela olhava rumo ao longínquo e secreto amanhã. 
Não precisava haver dúvidas, seu mirar era certo e confiante de que a beleza faria florescer um futuro sem dor, dias de alegria, sorrisos de contentamento, abraços suaves como o toque à flor.

Brisa mansa 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Sentei-me esta noite à beira do mar. Deixei-me levar pelo vento que soprava. Era manso, mas não era brisa. Inebriada que estava por aquela sensação, estendi-me na areia e me permiti somente ouvir o som do vento e este, pouco a pouco, foi se tornando a brisa mansa a chegar suave e doce aos meus ouvidos, como voz de anjo a me envolver e tranquilizar.

Elevar-se 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Atitudes são capazes de fazer uma pessoa sentir-se ínfima diante do outro. Explicações nada valem quando há fatos que apontam ao revés. Fere-se, magoa-se, despreza-se e nem sequer se aceita o tanto que um é capaz de subtrair do outro aquilo que lhe permite sentir-se, no mínimo, respeitado. Se os ventos convergem para caminhos não desejados, não se pode teimar. Nem sempre os caminhos almejados elevam, tampouco são os mais seguros para trilhar. Elevar-se é não se permitir diminuir...

Canto de ocasião
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Uma espécie de canto me ocasiona 
Respeito as ideias e me são muito bem-vindas, 
Por ora, no entanto, preciso aprender a respeitar o meu sentir...

O homem subtraído 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Somos humanos e, como tal, agimos - ou ao menos deveríamos - agir de forma diferente das demais espécies. Nossos gostos são outros, nossos desejos e necessidades também o são. Assisto todos os dias a um belíssimo espetáculo da natureza, animalesco e doce. Pela manhã, deparo-me, ao longo do percurso que faço, com dois gatos vira-latas estendidos na calçada. Passam a pata um no outro. Lambem-se. Olham-se e num giro movimentam o corpo de modo que os olhares permanecem encaixados e os corpos enlaçados como numa cama de linhas e fios emaranhados. A dança da amizade sensual entre os bichanos me despertou sentimentos vários. Mostrou-me o quanto estou distante do toque. Penso que me esvazio a cada dia que deixo de receber um abraço fraterno, um delicioso abraço no qual se envolve o outro e se é envolvido. Esvazio-me, porque me falta o toque delicado de um carinho, o beijo suave na face, o passar de mão pelo cabelo insinuando que há alguém ali preocupado com o que sinto. A falta desses ingredientes tão basilares ao ser humano tem me despertado inquietação. Não sentir essa humanidade tem diminuído meu lado racional e deixado fluir minha face emocional, tensa, imatura e cheia de mágoas. Olho todo dia no espelho, instintivamente imito no vazio de mim mesma os movimentos dos bichanos da rua, cuja ternura, alegria e leveza contrastam com aquilo que tenho trazido às costas. Volto de novo o meu olhar para o meu, não posso me reconhecer, não posso me encontrar, tampouco reconstituir o que fui. Forças para uma reconstrução é necessária, porém como conseguirei me amparar nelas? A tinta que cobre meus lábios nada mais são do que tinta. O acessório que levo ao pescoço nada mais significa que um adorno. Assim também são as roupas, sapato e tudo o mais que não seja humano. Sou ser esvaziado. Sei o que fazer. Mas como farei? Sei o que dizer. Mas como direi? Não careço mais de sentimentos duros e pesados. Urge em mim a leveza de passos, a delicadeza do sorriso, a mansidão em palavras, o alento no olhar. Qualquer ato que fuja dessa minha urgência só me irá ainda mais desumanizar e deixar de me subtrair daquilo que me fez sempre ser humana.

A chuva e a vida
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Hoje, mais uma vez, o dia amanheceu chuvoso. Cinza e triste a manhã vai passando lentamente. Também lenta chega ao coração dela a calmaria, a mansidão. Na madrugada houve alteração de humores, nesta manhã tão letárgica, houve uma verdadeira explosão. Sair de onde está lhe é necessário, já não pode mais ouvir o que ouve, sentir a angústia que tem insistido, a tristeza que lhe tem abatido. Quem sabe quando a manhã amanhecer de sol, os sentimentos sejam outros, assim leves, assim alegres, assim puros.




Londrina, 81 anos, menina, moça, mulher... 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Em sua história, menina Londrina, encontra-se o tracejar de causos e lendas. Desbravada por gente que veio de longe, ganhou ares tão seus, tornando-se atraente a outros povos. Sua identidade está a se formar, mas difícil será delinea-la, porque você, menina Londrina, foi constituída da deliciosa mistura humana e, portanto, é sincrética e deliciosamente nos convida a desvenda-la. É uma moça crescida em sua área comercial. Fortalecida por ser a cidade que manda na região. Seus espaços urbanos são convidativos aos olhos e sua área rural atrai a muitos que pisam somente em concreto. Mulher bem jovem ainda, foi a majestosa capital do café. Forte, quando teve de vencer adversidades climáticas, seu povo encontrou meios de lhe manter grande e altiva. Em suas ruas, encontram-se as pegadas daqueles que trabalharam para que se tornasse essa sedutora mulher. Tão sedutora que muitos dos forasteiros que por aqui passam não conseguem mais deixar seus espaços tão acolhedores. É uma terra que abriga, que atrai, que encanta e com uma gente singular, sempre pronta a receber. Londrina, ainda é uma menina quanto à constituição de sua história, ainda é uma moça quanto à formação de suas áreas industrial e comercial. No entanto, desde sempre foi mulher, forte, de terra fértil, a abrigar em seus espaços gente de todos os lugares e despertar nessa gente a vontade de ser Londrina.

Acostuma-se 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Dias bons são aqueles em que o Sol empresta seu brilho e calor para a alma tão fria e opaca. Claro. São esses os melhores. Mas quando o Sol vai deixando de se fazer presente, então, a alma, que julgava dele tanto carecer, descobre-se também dona de brilho e calor próprios. Acostumada que estava com a solidão, ela decide não se importar mais se o Sol nascerá ou não. Os dias, de início, serão cinzas, todavia, não tarda para que voltem a cintilar.

Foto: céu de Londrina às 6h30 de 08 de dezembro de 2015.

Vizinho de Bar
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Mudei-me para uma casa nova
Um lugar bom de prosear
Descobri logo nos primeiros dias
Que melhor mesmo era o vizinho bar
Que alegria! Todo dia
Chegava e ficava a ouvir
As conversas que de lá vinham
E cada noite um não conseguia partir
Uma figura rara e indecente
Lá estava para beber
Pediu ao dono uma pinga
Aquela noite a goela ia ferver
Chorava um choro sentido
E bebia para esquecer
Um caso mal resolvido
Que lhe fazia sofrer
Era engraçado de ver
O bêbado chorando suas dores
Mas era triste também
Ver ele assim cheio de amores
A Silvia era sua paixão
Daquelas mulheres bem especiais
Num dia dizia que ama
No outro é cheia de ais
E assim esse bêbado me intrigava
Me colocava a pensar
Amor é mesmo uma coisa boba
Que só vem a vida estragar
Coitado do meu amigo
Que não saía do vizinho bar
Chegava bem de mansinho
E logo as pernas ia trançar
Na cadeira mal parava
As mãos tremiam demais
As pernas não lhe sustentavam
Só lhe restavam seus ais
E a vida ia passando
E a bebida consumindo
Se por Silvia o amor passasse
Logo, logo, outro vinha vindo
Meu vizinho bar me alegra
Gosto mesmo de espiar
Ver os joões se atirando
Na bebida sem parar
Mudei-me para uma casa nova
Fui tomada de muita agitação
Era uma casa modesta e pequena
E ao lado havia um vizinho beberrão.

MICROCONTO 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Ao abrir os olhos, ainda sentia o gosto do orvalho da madrugada. Seus ouvidos, porém, ouviam as batidas da realidade a sua porta.

Jardim secreto 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Olho para as flores em minha volta. São perfumadas, belas, de cores e formas encantadoras. O jardim que vejo é real, as cores são reais, assim como os cheiros e as sensações possíveis ao toque. Questiono-me sobre o que vem a ser a realidade. Não toco, não cheiro, ainda que veja cores e sinta. Até quando viverei neste jardim secreto do sentir? Até quando suportarei a ausência do toque, do cheiro e das sensações que o estar diante do outro provocam. Flores, flores! Não murchem! Não percam a vivacidade que as tornam tão encantadoras a cada manhã.




Eu vejo 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)

Nem mesmo a ruga que se forma entre as sobrancelhas no momento em que está tão concentrado no trabalho que realiza permite que se esfume de seus olhos toda a mansidão que eles me trazem, tampouco tira deles o brilho que é energia pura e a alegria que já há um tempo tem me enebriado.

A mala
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Arrumou a mala com todos os itens de que necessitaria. Porque ainda havia muito espaço, decidiu enchê-la com todo o desejo que dela emanava, junto a ele, colocou também suas fantasias e pensou como seria bom poder concretizá-las. Ficou repleta. Que pena! Talvez a chuva, talvez o frio, mas a mala voltou da viagem com todos os seus devaneios lá dentro. E eles ainda continuam a atormentá-la...

Depois que sou tua 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Instantes depois de ter me entregue a ti, sinto ainda tua presença em mim. É um momento em que algumas gotas de orvalho insistem em ficar, é um momento em que o corpo teima em serpentear em diafania por sobre os lençóis. As mãos ainda passeiam pela carne quente e trêmula em busca de reviver o ápice ainda tão vivaz. Não gosto quando foges assim como animal que precisa refugiar-se.... Não gosto quando foges deixando-me sozinha a sentir ainda o desejo em brasa. Depois que sou tua, quero poder vislumbrar meu dono, quero ainda cruzar nosso olhar e buscar no teu aquilo que o meu olhar denuncia.





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