Caro Leitor, nesta seção, disponibilizo a vocês as crônicas publicadas na coluna Nossa Crônica assinada por mim no Jornal Nosso Dia. Boa leitura!!!
Meu currículo
Olá, caro leitor, sou Cláudia Vanessa Bergamini,
escritora e professora de Língua Portuguesa e Literatura, apaixonada por
textos, comecei a escrevê-los desde pequena e, a partir de hoje, estarei
compartilhando com você algumas de minhas reflexões por meio de crônicas.
Espero que você goste e possa rir comigo, quando assim for possível, de algumas
situações, refletir sobre outras e, o mais importante, possa encontrar neste
espaço a oportunidade de ler algo leve e agradável.
Entre bloqueios e desbloqueios
Por Cláudia Bergamini
Publicada em 25 de julho de 2016.
E mais uma vez os usuários de um
aplicativo viram-se, por algumas horas, impossibilitados de se comunicarem na
tarde da última terça-feira. Que transtorno para tantos que usam o recurso a
fim de tratar de trabalho, de estudos ou mesmo de questões familiares que não
podem esperar. Para outros, porém, que veem uma forma de diversão nas mensagens
de áudios, textos e nos vídeos, ter tido o app bloqueado foi uma maneira de
descobrir que existe rua, ou melhor dizendo,
que existem modos outros de se comunicar e pessoas que são muito mais
interessantes para um bom bate-papo real. A moça que há muito tempo toma o
mesmo ônibus a caminho de casa olhou ao redor e se deparou com uma amiga da
escola com quem conversou durante todo o percurso. Descobriram que todos os
dias estavam ali e não se viam, quer dizer, não se percebiam. O rapaz, de
cabeça erguida, atravessou a rua e viu na loja uma blusa de inverno que há tempo
muito procurava. A blusa sempre esteve li, mas ele é quem mantinha a cabeça
baixa, respondendo às mensagens. A mãe chegou do trabalho e pode contar com um
conversa agradável com o filho. Quantas novidades eles tinham um para contar ao
outro, pois, ainda que vivessem na mesma casa, as conversas eram rápidas e sempre
interrompidas por outras as quais chegavam por meio do tal aplicativo. Bem, os
motivos que levaram à interrupção do serviço, justificáveis ou injustificáveis,
não vêm ao caso. Porém, fato é que as pessoas puderam desfrutar por alguns
momentos de uma conversa cara a cara, ouvir a voz real, perceber olho no olho e
talvez até alguns se deem conta da falta que faz tudo isso e de como é bom
interagir face a face. Que venham outras interrupções, pois são elas uma forma
de permitir ao homem olhar ao seu redor e viver de fato a realidade.
O sorriso é a cereja
da vida
Por Cláudia Bergamini
Publicada em 28 de julho de 2016.
A moça chegou ao escritório e foi
recebida pelo colega de trabalho com um alegre bom dia. Bom dia para quem? Ela
pensou na noite que tivera. Havia passado em claro. As preocupações cotidianas
não a deixavam há dias descansar. Pensou nas horas e horas em que se virou na
cama. Levantou, foi ao banheiro. Meia hora depois, levantou e tomou água. Mas
meia hora e precisou novamente ir ao banheiro. Lembrou-se, então, da receita da
vovó Olívia e foi para a cozinha. Dizia a avó que uma xícara de leite morno é
tiro e queda para a insônia. E assim fez...Tomou o leite e foi se deitar.
Acordou na manhã seguinte com o despertador lhe avisando que era hora de ir
para o trabalho. Dormiu poucas horas, não sabe se por causa do leite ou se por
causa das lembranças que lhe vieram à mente. Lembranças da infância, da avó, de
tempos em que a vida era feita de instantes duradouros de sorriso. O sabor
adocicado do leite trouxe com ele o gosto da massinha de pão frita e passada no
açúcar com canela, gosto da rabanada do meio da tarde feita com os pães que
restaram da manhã, o macarrão do domingo, com o molho bem vermelhinho,
acompanhado pelo frango caipira. Antes de o sono vir tomar o lugar da insônia,
a moça se lembrou ainda da voz da avó a avisá-la sobre as obrigações do dia,
escola, tarefa, ajudar com os afazeres domésticos e, claro, não pôde deixar de pensar
no quanto brincava. Correr, pular a amarelinha, pega-pega, esconde-esconde,
balança-caixão, mãe da rua, salada de frutas. Meninos e meninas compartilhavam
horas frenéticas de brincadeiras inocentes, de gritos que anunciavam pisadas na
linha da amarelinha ou de céu e inferno, batidas no pique ‘um, dois, três,
salvo eu’. O colega de trabalho viu nos olhos da moça um ar de alegria e, como
não havia tido resposta, mais uma vez disse bom dia. A resposta veio imediata.
A moça olhou para ele e respondeu: ‘Bom dia!’ Naquele instante morreu dentro
dela a tristeza, pensou no bolo de aniversário e na cereja em cima dele e
disse: ‘que o dia nos faça sorrir, pois o sorriso é a cereja da vida’.
O galo
Claudia Bergamini
Publicada em 01 de agosto de 2016.
Sou cosmopolita, adoro concreto!
Não que não goste da natureza. Porém, ainda que tenha crescido em uma chácara,
o que me encanta mesmo é a cidade, seus labirintos misteriosos, sua noite
agitada, sua manhã nevrálgica. Hoje, estando eu em uma pequena cidade do
interior, daquelas que a gente sente que a vida corre lenta, sem a loucura dos
grandes espaços urbanos, fui despertada antes das seis da manhã pelo canto de
um galo. Há muitos anos não ouvira esse canto. À medida que me virava na cama e
constatava que o corpo ainda pedia mais dela, rendi-me à melodia galinácea. Com
que autoridade o galo anunciava a chegada de um novo dia, com que audácia
ele avisava a todos que, por sua determinação, era hora de levantar. As outras
aves não eram capazes de exprimir uma nota sequer, porque o majestoso tenor
invadira o silêncio da pequena cidade com sua melodia. Enquanto ele cantava,
revivi em meu coração instantes únicos de uma infância longínqua, quando ainda
nem sabia o que era concreto. Lembrei-me de que em mim, em algum lugar, resta
ainda uma saudade do canto de outrora, do galo soberano que me acordava.
Amanhã, terei um despertador digital a me lembrar dos afazeres do dia. Todavia,
o canto de hoje estará vivo em mim.
Ilustres somos nós!
(Por Claudia Bergamini)
(Por Claudia Bergamini)
Publicada em 04 de agosto de 2016.
Certo dia, cheguei a um hotel. Um bem pequeno localizado no interior de
São Paulo. A cidade sem muitos atrativos, daqueles lugares em que o silêncio
paira no ar, a vida corre lentamente e as pessoas não precisam de pressa, pois
o tempo lá é um tempo mais duradouro. Olhei tudo o que os olhos puderam
enxergar na avenida principal, nada mais que meia dúzia de carros, algumas
carroças insistentes que iam e vinham, talvez levando leite, ou quem sabe
apenas de passagem. Mas, voltando ao hotel... Ao entrar nele, observei que na
parede do pequeno estabelecimento havia fotos de todos os grandes que por lá já
passaram. Com que orgulho o recepcionista veio contar-me sobre os tais
ilustres. ‘Este, apontava ele, esteve aqui em janeiro, e mostrava a foto de um
cantor sertanejo; aquele, apontando com o dedo, já passou três vezes por aqui’. Os quadros estavam espalhados por todo o
espaço. Aos montes! Eles tinham duas funções. A primeira, fazer o hóspede tomar
conhecimento sobre quais personalidades já passaram por ali. A segunda fazer
com que o hóspede reconheça a importância do lugar. De fato, é um hotel
agradável. Para uma cidade com pouquíssimos habitantes, é excelente. Porém, os
ilustres cantores e duplas sertanejas que por lá passaram nada mais foram do que
hóspedes. Ser ou não ilustre está dentro de cada um de nós. Os cantores são
figuras públicas. Alguns, seres humanos fantásticos; outros, seres humanos
mesquinhos e envoltos em uma infinita pequenez. Nós, hóspedes que passamos
despercebidos, somos ilustres, haja vista que quem conosco convive conhece
nossas duas faces. A magnífica e a mesquinha. Sem máscaras, somos o que somos,
sem palco, sem holofote, mas com um show a cada dia, pois viver é um belo
espetáculo do qual somos os ilustres protagonistas.
Sobre cuidar de rosas
(Por Claudia Bergamini)
(Por Claudia Bergamini)
Publicada em 07 de agosto de 2016.
Simples ir até o jardim e escolher a roseira que deseja fazer sua. Simples
ir ao jardim e separá-la para você. Feita a escolha, inicia-se um processo.
Os meses de julho e agosto são os mais indicados para que as roseiras sejam podadas. E de fato são. Talvez agosto seja ainda melhor.
A poda somente pode ser feita depois que a roseira ofereça a rosa mais pura, mais bela. Para tanto, dedicação é preciso. Regá-la todos os dias com água fértil, de qualidade inquestionável. Dedicar seu tempo a inspecionar cada pequeno espinho, cada detalhe das folhas e galhos.
Os meses de julho e agosto são os mais indicados para que as roseiras sejam podadas. E de fato são. Talvez agosto seja ainda melhor.
A poda somente pode ser feita depois que a roseira ofereça a rosa mais pura, mais bela. Para tanto, dedicação é preciso. Regá-la todos os dias com água fértil, de qualidade inquestionável. Dedicar seu tempo a inspecionar cada pequeno espinho, cada detalhe das folhas e galhos.
Rosas gostam de se sentir seduzidas pelo seu dono. O prêmio dessa
sedução são as pétalas aveludadas e levemente perfumadas que, ao simples toque,
deixam revelar as gotas de orvalho que nelas se escondem.
Ofertadas as flores, chegou a hora da poda. Momento que saem todas as folhas e galhos em excesso e, ao passo que a roseira vai ganhando nova roupagem, seu dono já vê nela os traços que desejou lhe atribuir.
Ofertadas as flores, chegou a hora da poda. Momento que saem todas as folhas e galhos em excesso e, ao passo que a roseira vai ganhando nova roupagem, seu dono já vê nela os traços que desejou lhe atribuir.
Quando alguém se torna o dono de uma roseira, torna-se, também, o dono
de seus espinhos. Por certo que ela não tem pretensão nenhuma de ferir a quem
ama com devoção. Porém, às vezes, o sol forte do dia, bem como as horas e horas
em que ela ficou exposta sem cuidados deixam-na com espinhos em evidência.
Fácil resolver, é só dispensar a ela um tempo e o cuidado necessários
que o dono só colherá a suavidade e a mansidão tão características dessa flor.
Rosas amam, e quando o fazem, despem-se de espinhos...
Rosas amam, e quando o fazem, despem-se de espinhos...
A lição de Rafaela
Por Cláudia Bergamini
Por Cláudia Bergamini
Publicada em 11 de agosto de 2016.
Que alegria
compartilhada pelo povo brasileiro esta semana com a vitória da judoca Rafaela
Silva. Quanta lágrima na tarde de segunda foi derramada por pura emoção. Depois
das lutas durante todo o dia - e mais aquelas durante os treinos - bom ver o
sorriso da menina carioca vinda de um contexto tão complexo, aliás, igual ao de
muitas Rafaelas brasileiras que andam por aí vencendo desafios a cada dia.
Melhor ainda ver uma nação se render ao encanto da
mulher forte que se apresentou como autora de sua própria história. Não é raro
encontrar estórias de superação que vêm pôr em evidência a garra e a
determinação daqueles que acreditam que amanhã é sempre possível conquistar o
que hoje escorregou pelas mãos. Porém, a medalha olímpica de Rafaela não tem
apenas o gosto da vitória; antes, traz em seu bojo a História sendo escrita por
um viés outro. A História contada pelos passos resilientes que aprenderam a se
fortalecer, caminharam por pegadas tão ousadas e souberam reescrevê-las com
vistas à vitória. Que possamos todos encontrar em tal feito o espelho para o
futuro, vislumbrá-lo como a fonte para a conquista. Que o ontem não seja motivo
para que o amanhã não floresça e que cada lágrima advinda da dor de hoje possa
ser colhida como fruto da alegria do amanhã.
Os mitos de carne e osso
(Por Cláudia
Bergamini)
Publicada em 14 de agosto de 2016.
Ei, você? Você mesmo que acordou
nesta segunda-feira cheio de problemas como tantas pessoas espalhadas pela face
de terra. Então, ontem foi comemorado mais uma vez o dia dos pais. Data tão
comercial, mas que, graças ao carinho e devoção de tantos filhos, torna-se um
dia singular, em que abraços e frases são trocados e permitem vibrar a ideia do
mito de carne e osso que é o pai. Sim, um mito de verdade, pois quantos pais
trazem em sua trajetória a garra para vencer os obstáculos da vida. Trabalho,
às vezes a falta dele; os apuros financeiros tão comuns num país em que certas
instabilidades transformam os dias difíceis em mais difíceis ainda; as
preocupações com o futuro dos filhos em relação à profissão, à família, enfim,
pais são seres humanos, cheios de defeitos, de vontades, de dúvidas, de
ausências, mas também cheios de presença, de alegrias, de sorrisos, de abraços.
São estas características, pois, que fazem com que cada um traga a imagem do
pai herói, do homem que chegava com a bala, o chiclete, que brigava por causa
das bagunças de crianças, que levava ao parque quando possível, que comprava
pipoca do carrinho da esquina. Cada um traz dentro de si a imagem do pai humano
e que, por alguma razão, merece ser celebrado, ao menos em um dia do ano, como
herói. Nem sempre a memória traz imagens tão belas, é verdade, mas no dia de
ontem muitas amarguras foram deixadas de lado e o que valeu, de fato, foi ir ao
encontro desse mito humano, reconhecendo que ele faz parte de nossa história. Brindemos
a todos os pais, desejando que eles na eterna busca de serem os super-heróis
dos filhos, possam, no mínimo, serem bons super-humanos.
O pedido de Letícia
Por Cláudia Bergamini
Publicada em 18 de agosto de 2016.
Publicada em 18 de agosto de 2016.
Dia desses fui à padaria, já bem
no final da tarde, como me é costume passar por lá, cumprimentei carinhosamente
as atendentes, que conheço de nome, Letícia e Isabel, e de sorriso. Muito bom
ser por elas atendida e melhor ainda saber que leem as crônicas que aqui
publico. Depois do pedido a mim feito para uma delas, como sempre eu queria pão
francês e brevidade, foi a vez de uma delas me fazer um pedido. Sabe, você
escreve sobre qualquer coisa? Letícia me indagou. Respondi que sim e perguntei,
com curiosidade, por quê. Ela me explicou que não era fácil nem dizer o que
desejava, imagina escrever, mas me explicou a razão de seu pedido. Eu ouvi e,
ao terminar, lembrei-me das palavras de Bentinho, personagem de Dom Casmurro de Machado de Assis:
‘domino a arte da palavra, mas não a do sentir’. Sorri e prometi a ela que
escreveria sobre o que me pediu. Então, aqui estou eu, tentando em mal traçadas
linhas esvaziar, em palavras, tão difíceis sentimentos. O caso é que o assunto
não é tão complicado assim e se trata de algo tão comum a tantas mulheres.
Afinal, quem já não sentiu a dor de ser magoada por alguém que ama? Pois é! Essa
era, pois, a situação da moça de sorriso doce. Não preciso aqui reproduzir o
contexto, mas posso dizer que magoar alguém caminha para além da ação. A
atitude feita hoje, amanhã já foi esquecida e até perdoada. Porém, o que não se
esquece nunca são as feridas que ficam no peito sempre a doer, para nos lembrar
que a ação existiu e as marcas estão ali para sempre. Mulheres, mulheres, seres
tão cheios de delicadezas, sensuais, atrevidas, tímidas, doces, mas também
cheias de dores, marcas, mágoas que muitas vezes as tornam amargas. Homens,
homens, se soubessem lidar com flores, certamente nunca se feririam em espinhos
e, em suas mãos, restaria apenas o perfume das flores que andam por aí pedindo
para serem cuidadas.
Colecionador de bibelô
(por Claudia Bergamini)
Publicada em 22 de agosto de 2016.
Pessoas
não são bibelôs, como aqueles que se vê na vitrine, gosta-se da aparência e
decide levá-lo para casa. Não se brinca com sentimentos humanos, pessoas são
muito mais que isso. Quando se escolhe alguém para construir uma amizade, importante
se faz ter em mente que nos tornamos responsáveis por aquela pessoa e quando se
tem a reciprocidade como resposta, a responsabilidade é ainda maior. A lógica
de alguns em relação ao outro é mais ou menos assim: escolhe-se na prateleira
o bibelô; em um primeiro momento, cuida-se dele com esmero, dedicando
tempo para polir cada parte. Em um segundo momento, incia-se um processo de
apontamentos de defeitos, como que se fora uma forma de dizer "olha, você
não me é tão necessário assim". Depois, inicia-se o período do
descumprimento. A poeira, que antes jamais poderia estar por perto, começa a
assentar. Cada dia um descuido. Até que chega o momento de jogá-lo, de
descartá-lo de vez. Não importa o tanto que o bibelô tenha servido para
agraciar sua vida, o fim dele é o lixo. Se ele estiver com alguma parte
quebrada. Maravilha! Fica mais fácil ainda menosprezá-lo. E assim, em tempos em
que vivemos na era líquida dos relacionamentos, as pessoas se tornam os
pequenos objetos a enfeitar por um período determinado a vida do outro. A contemporaneidade
exige tudo perfeito, se o bibelô quebra, lixo para ele. Pena as pessoas
pensarem assim e permitirem que outras sejam feridas tão profundamente.
Por que comprei flores...
(Por Claudia Bergamini)
Hoje fui ao mercado, ao entrar, fui recebida com flores. Que alegria!
Não se trata de uma flor qualquer, e também, vale esclarecer, não eram flores
que me foram dadas. Porém, era para mim que elas sorriam. Era para mim que elas
insinuavam uma beleza ímpar, a pureza do branco, contrastando com a alegria de
um verde viçoso. À medida que me aproximava do lugar em que estavam expostas,
confirmava em meu coração que era para mim que elas se mostravam assim tão meigas,
tão doces e tão sedutoras. Orquídeas,
daquelas que simbolizam, segundo a lenda, paz e prosperidade. Prosperidade esta
que vem anunciar a estação que se faz tão próxima, em pouco tempo, o cinza dos
dias sai de cena e uma nova protagonista vem embelezar os dias com cores e
amores, a primavera. Quanto de amor há em uma flor? E quanto de amor há em uma
mulher? Estagnei-me diante da beleza que me servia aos olhos. Não podia sair
dali, porque me sentia como a orquídea, bela, insinuosa, sedutora, pedindo para
ser roubada, pedindo para ser a flor escolhida dentre tantas que embelezam o
jardim. Entre mim e ela houve uma troca de sentimentos que pude ouvir o que ela
tentava me dizer por meio de suas flores alvas. Dizia-me de quanto tempo ela
precisou para ficar assim tão bela. De como o percurso pelo qual já trilhou foi
de espinhos e de quanto aquele momento em que ela era contemplada e amada era
único. Tomei o pequeno vaso em minhas mãos, pois não pude deixá-la. Ela
embeleza muito mais que minha casa, enche de paz meus olhos tão cansados e
preenche de vida minha pobre vida.
A bola
(por Claudia Bergamini)
Ah, bola!
Como te deseja o louco por futebol. Corre atrás de ti como se fosse única deusa
a existir no universo. Sedento que está, para ti desenha com os pés as mais
belas manobras. Faz dos gestos, para se aproximar, verdadeira poesia. Se longe
tem de ficar, enlouquece. Procura-te pela manhã com a ânsia do bebê faminto.
Pela tarde, rola contigo com a alegria do menino em seu primeiro gol. À noite,
põe-se lobo a uivar para te seduzir. E tu, encantada bola, a acreditar ser sempiterna.
Mas, toda bola tem o momento de ser a da vez. Toda bola tem o momento de ser a
deusa a seduzir seu aficionado. Algumas levam um pouco mais de tempo para sair
de campo, mas quando é chegado o momento: au
revoir. Se não quer, entenda, ser a bola da vez tem dia e hora para acabar.
Não é eterna a poesia que emana de ti e sempre haverá outra e outra e outra a
merecer a paixão avassaladora do amante. Sempre haverá outra a fazer brilhar os
olhos, a estremecer a respiração, a incendiar o corpo. Logo, passado o momento,
sair de campo é honroso. Descansar da jornada intensa é cabível. E o outrora
louco por ti, vai descobrindo outras e outras e outras, paulatinamente, que um
dia também deixarão de ser tão sedutoras. E tu não habitará cá na Terra sempre
triste, porque mais do que bola, tu és forte, mulher!
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