sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Peropportune




















A dona da manhã 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Desavergonhadamente, ela colore o dia. Bela e recatada, dá vivacidade ao verde e empresta à fria manhã de outono a suavidade e mansidão em nuances tão singelas. 


Em dor 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)

Amanhã ainda estarei com dor,
tem estado comigo há alguns dias,
doí-me o estômago pela manhã,
de forma insistente e duradoura.
Remédios, já os tentei em vão.
À tarde lateja a cabeça,
fico calada para passar,
vem a noite e ainda sigo
com dores que se acumulam,
tratamentos desnecessários...
Há dores que se fazem mais fortes com o tempo,
há tempo que não serve para curar,
há prenúncios que devem ser ouvidos,
há lamentos que nada mais são que lamentos,
e ecos que doem a cada dia mais...

Metamorfose
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Camuflo sentires para sorrir,
invento lágrimas para compor, 
revisto-me de coragem para viver,
dobro o joelho para a prece,
fecho os olhos para imaginar,
sinto o momento para ser feliz,
busco sentires para não me perder.


Sobre sua presença 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

O espaço não é grande, sem sua presença, porém, soa imenso. O colchão, ontem de amor, voltou a ser de lágrimas e solidão. A organização do quarto deixa-o tão frio e tão distante do calor que emana de você. Cada item guardado, minuciosamente no lugar, só vem lembrar da morbidez que a sua ausência provoca. O lençol alinhado, a toalha solitária, o perfume que ainda restou no ar, quanto de você ficou, quanto de sua presença está aqui. Por certo, você deixou de propósito para que eu confirme, uma vez mais, as certezas que já estão em mim. 

Considerações sobre as formas de amar 
( por Claudia Vanessa Bergamini) 

E Riobaldo amou Otacília. Sim, ele a amou! Amor de gratidão, de cuidado, de respeito, pois sabia que as mãos dela estariam sempre prontas a ajudá-lo. Nela encontrava o porto seguro, a brandura de coração, a devoção para lhe fazer feliz. Essas eram, pois, as características do amor de Riobaldo por Otacília. E Riobaldo amou Diadorim. Não! Riobaldo amou muito Diadorim. Amor de entrega, de devoção, de desejo. Encontrava nela um porto seguro, as mãos prontas a ampara-lo, mas também ela era fogo a arder nele. Seus lábios sonhavam insistentemente em tocar os dela, a menor proximidade o fazia tremer. Se triste, ela era seu refúgio; se feliz, com ela partilhava do contentamento; se desejoso, era com ela que anseava explodir seu gozo espontâneo. Com Otacília, o beijo não existia, o sexo era sexo, a amizade era convencional. Com Diadorim, o beijo era utopia, o sexo era quimera, a amizade era real. Entre a primeira e ele havia o mar. Entre a segunda e ele, não havia barreiras. A ambas amava, mas o amor devotado a Otacília não foi a ela suficiente. Como flor que vai aos poucos desfalecendo, assim ela o fez. Entristeceu seu coração o constatar de que amizade é tão próxima ao amor, mas não é o amor a que ela tanto esperava. Chora Otacília o amor que não recebe. Espera ainda encontrá-lo. Quem sabe esteja tão próximo, mas ela é incapaz de ver. Talvez esteja na esquina, basta se permitir senti-lo. Ou ainda quem sabe ele não exista para ela, porque está escrito que ela nasceu apenas para a amizade.


Sonhos 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Sonhos são como pássaros: pousam delicadamente e vão conhecendo o território; depois, ariscos que são, voam deixando um espaço que só cabia a eles preencher.

No canto da sala 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

No canto da sala, estão alocados objetos, cuja função é sazonal. Não podem sair de lá, afinal, é preciso usufruir da utilidade que lhes cabe cumprir. No entanto, há momentos em que são, tão somente, o acessório que se deseja ocultar quando chega a visita, quando há luzes acesas, quando os holofotes estão voltados para outros horizontes... 



E o outono deu o ar da graça... 
(por Claudia Vanessa Bergamini) 

A menina Norte paranaense amanheceu hoje abafada, como lhe é tão peculiar. Porém, chamou a atenção o vento característico do outono que chegou até Londrina. As árvores agitaram-se e fizeram brotar do chão a poeira vermelha, denunciando dias e dias de estiagem . A terra roxa avermelhou o céu e pequenos redemoinhos anunciaram que os dias de calor estão contados. A moça segurou o vestido para que suas pernocas não ficassem expostas. A adolescente zangou-se com o vento que lhe despenteava. Nas árvores o movimentar dos galhos. Nas roseiras a dança das pétalas. No jardim, o beija-flor, leve que é, equilibra-se na flor para roubar-lhe o mel. E o coração busca segurar-se na corda bamba do amor. Será que o friozinho virá de fato? Se vier, que traga com ele ares novos, tão perfumados quanto os do outono, com o aroma das mexericas a exalar por aí. Se vier, que não gele nossos corações e que nossos corpos permaneçam aquecidos no calor do desejo.




Transborda 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)

Eu, tão eu, cheia de convicções, cheia de vontades, sinto-me tão perdida dentro de mim mesma quando o assunto envolve você...
Eu, tão cheia de saberes e deveres, conceituo-me tão pequena diante da estranhez que a sua presença em meu coração provoca...
Eu, tão eu, sinto-me tão você e me coloco tão necessitada de que seja também um pouco de mim...
Eu, tão cheia de mim, coloco-me tola assim quando penso que meu corpo pode no seu arder...



Boêmia 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)


O desejo sufoca,
a espera irrita,
a noite convida,
para uma cerveja tomar...
O corpo em brasa,
refrescar a alma,
abrandar o desejo,
embriagada ficar...
Madrugada adentro,
esquecer o tormento de não te encontrar,
planejar teorias,
acalmar fantasias e se por a pensar...
Corpo sonolento,
deixar bater o vento a me refrescar
amanhã outro dia
e minha utopia de volta estará...

Rastro 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)
Todos os dias chegam até mim pessoas...
Gosto de conhecê-las, de senti-las próximas.
Algumas passam com sua existência vazia e sem brilho, não deixam uma marca, tampouco exalam o cheiro do novo.
Outras, porém, são tão intensas quando se aproximam que, ainda que passem rapidamente, ao partir deixam um rastro de luz sem igual, um rastro de amor, um perfume sentido a distância, uma essência que me faz desejar mais e mais...

Barreiras 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)
Há um abismo entre nós, há uma ponte intransponível, há edificações sociais, morais, religiosas sólidas tão latentes a separar-nos. Ao mesmo tempo, há um desejo secreto, há uma vontade velada, há sentires sufocados... ir ou não, viver ou não, falar ou não? Respostas, busque-as em seu coração...

Corpo, matéria, te quero cansado, suado, com o sangue a pulsar. Se corro, deixo-te exausto e ponho a mente a descansar...


E sempre e tanto
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Lançou na terra a melhor semente. A terra era Boa, com níveis de ph equilibrados. A semente era fértil. Uniram-se terra e semente e ofertaram ao lavrador o melhor dos frutos. Doce, meigo, tranquilo. O fruto era o amor. Uma vez nascido, passou por estágios. Mas nunca deixou de ser o fruto advindo de fontes tão seguras. Ele, o amor, continuou latente, triste e insano às vezes, mas o mesmo belo amor de outrora. 

Inquieta 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Vejo você chegar de mansinho. Pouco a pouco vai transformando a paisagem. Suas nuances vão roubando as nuances do dia. Com sua presença, o Sol já não impera soberano. Cada expressão sua revela seu poder de sedução. Ousada que é, mesmo sendo breu, une-se à luz artificial para mostrar sua beleza. Noite, noite! Musa dos inquietos, companhia insólita do solitário, perturbadora do desejo, por que passa tão longa e lenta? 




Bela, menina
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Menina, menina, quanto de mim vejo em ti,
neste sorriso formoso, 
neste falar de sonhos,
que também já vivi.


Menina, menina, nestes olhos teus,
quanto vejo de alegria que em mim já se perdeu.
Na tua vida, menina, ainda não há breu,
porque não conheces a dor de quem já disse adeus.
Na tuas mãos, sinto o calor do querer,
sinto fluir a energia,
basta te olhar para perceber.
Nos cabelos há brilho,
na pele há frescor,
em mim tudo opaco,
se me olhar verás dor.
Menina, menina, um laço no cabelo,
uma flor para enfeitar
te embelezar por inteira.
Menina, teu sorriso não percas jamais,
pois ele me encanta
pensando em dias que não voltam mais.
Olhando-te, menina, revivo meus dias
e fico feliz com tua companhia.


Entre verdades e mentiras 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)

A mentira é uma bichinho irritante,
um soco no estômago a doer,
sobretudo quando ela vem
de quem diz gostar de você...
Ações mostram muitas atitudes,
palavras também podem mostrar,
pior quando aqueles que agem,
desejam com palavras as ações negar.
Já acreditei em conto de fadas,
cria que eles existiam de fato,
agora só penso que a vida
é um porão cheio de ratos.
Sorrir está difícil no momento,
cada dia uma tensão diferente,
se não vem de quem gosta da gente,
vem daqueles que causam tormento.
Intriga-me como pode
a consciência de alguém ficar
cheia de certezas tão pequenas
que ao outro só pode prejudicar.
Depois quando uma louca me torno,
cheia de verdades a dizer,
o que nega a verdade só diz
que doente estou há de se ver...

Câmbio 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)
Acordou convencida de que estava errada e de que deveria mudar. Quando ouviu se repetirem gestos e palavras tão corriqueiras, soube que só poderia caminhar em outra direção se decidisse seguir por uma estrada diferente. A ladeira pela qual percorria era íngreme demais e muito pouco confiável.

Somente uma flor
(Por Cláudia Vanessa Bergamini)
Àquela altura, o pensamento que lhe vinha à mente era o de ser um monstro. É, diziam-na um monstro e, assim, queriam que ela se assumisse. Seria, de fato, aquela mulher, um monstro? Monstro este formado na rudeza de um amor mal acabado, no infortúnio de uma história que, desde sua gênese, foi mal escrita, por vidas que não se queriam juntas.
A gênese desse monstro era anterior à existência dele, pois vinha de caminhos tão mal trilhados e, ainda na infância, esse ser, a que hoje denominam monstro, sentiu a herança perversa daqueles caminhos.
Na verdade, ela se sentia uma flor rara. Caminhava pela rua com uma firmeza nos passos antes nunca vista. Falava com uma segurança e uma certeza que assustavam os seus ouvintes. E justo por isso era um monstro.
Dentro dela, porém, havia um oceano formado pelas flores mais aromáticas, havia uma onda que, a cada movimento, exalava um perfume raro que há anos estava em maturação. No entanto, ela se lembrava de que era um monstro.
Pensava em tudo o que havia dito, com tom firme e com segurança, ainda que algumas teimosas lágrimas insistissem em descer. Pensava nos relatos que saltavam de sua mente e se materializavam diante dos ouvintes. Tais relatos colocavam-na em um estado de tristeza pelo vivido e euforia por contar cada detalhe. Sabia que, por mais que dissesse, ainda haveria muito a dizer e muito a omitir. E pensava se seria um monstro ainda se contasse tudo, ou definitivamente, a flor, que estava certa de ser, seria revelada.
Nos passos daquela mulher, somente as mudanças a ela importavam. Seus ouvintes preocupavam-se com as transformações, por certo, porque incomodavam.
Ela estava imersa em um novo caminho, em uma nova vereda sem volta, ainda desconhecida, mas que não seria a mesma de outrem.
Flores, ela foi espalhando pela alameda em que trilhava para garantir que fosse se alastrando uma nova essência e seus passos fossem, ao menos, perfumados.
Por fim, como último pensamento, como quem esmorece e já não consegue mais proferir uma palavra sequer, ela buscou no fundo do seu coração uma resposta para sua condição e somente constatou que ela de fato era uma flor.

Sem rumo 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)
Fala-se hoje!
Repete-se amanhã!
Torna-se o feito depois de amanhã!
Fala-se sobre nada!
Repete-se o vazio!
Torna-se o vácuo depois de amanhã!
Idem!
Idem!
Idem!
Ops, é hora de mudar de direção...

Saciada
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Quando os oásis do sentir se secam, por meio da palavra estabeleço uma nova forma de saciar minha sede...

Entre o dizer e o sufocar 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)

Todos os dias, ela despertava pronta para ouvir as palavras que esperava ouvir dele. Porém, quando ia dormir, a vontade permanecia nela. Dia após dia, as palavras silenciavam, tornavam-se rotinas tão sem calor. E ela era puro pulsar do amor. A poesia não pode deixar de ouvir o que lhe alimenta, nem tudo nela é dor e sofrer. Há risos ocultos, há desejos esmagados, há sentires sufocados que dormem com a lua e não acordam com o sol...



Adeus 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)

Fiquemos, se assim desejar, com o aroma de nossas tardes, com os quereres recíprocos, com as risadas gostosas e joguemos fora tudo o que nos tem ferido. Por favor, responda, porque os pontos finais são mais necessários que as reticências que me perseguem.



O que não se conta 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Coloridas, alegres, sortidas dançam as roupas no varal. A menina, que olha a festa do vento, encantada, não sabe quantos beijos a blusa testemunhou. Quanta ousadia o vestido sentiu. Quanto calor o jeans suportou. Admirada, somente deixa os olhos correrem peça a peça... 



Conto de fadas na política nacional
(Por Cláudia Vanessa Bergamini)
Era uma vez a votação de impeachment...
Não, era uma vez o dia do discurso vazio. Dia dos deputados valerem-se do microfone e da audiência, que sabem ter em mãos, para fazer uso da palavra vazia. Os discursos voltados aos próprios interesses. Voltam-se para o umbigo, para as mazelas entre eles mesmos. Um deputado carioca brada fortemente para vingar o pai, seu sim é ouvido pela plateia formada em grande parte por pseudo democráticos que dizem estar em prol da democracia brasileira. É dolorosa aos ouvidos a lengalenga! Será que um deles já dedicou o voto ao cachorro? E onde estão os votos dedicados a um país em que haja justiça, em que haja de fato um sistema democrático límpido, em que haja posicionamentos políticos que caminhem para além de brados de ódio e prazer por vingança. E nós, povo, que a tudo assistimos, estamos buscando uma forma de realmente ver um final feliz para este conto mentiroso, no qual não há príncipe, nem princesa, mas sim vilões a sobrepujar a Constituição.


Verbete 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

S.F. = Frustração é uma emoção, todavia, só ocorre nas situações em que um fato obstrui o alcance de um almejo pessoal. Quanto mais valor se coloca ao objetivo, maior será ela. É comparável à raiva. É alegria retida dentro do peito. É sorriso que se desejava gargalhada. Às vezes, emerge como som, em outras, provoca estragos. É o corroer do cérebro, é o pulsar do peito, é a respiração descontrolada, aí, nada detém... É da família da ordem do não saber como agir, como dizer, o que fazer, o que ser...É do grupo da inércia. Paradoxo, pois paralisa ações, mas intensifica o intrínseco. Relógio sem direção. Corda bamba em cima de vulcão em erupção. Perdida em sentimentos...


Nacimiento 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Mi forma de estar en la vida eres como el tango,
soy mescla de orígenes, de personas, de gustos.
No soy lo que la vida me ha hecho,
Pero lo que siento que debo construir.
Me hago todos los días!
Me deshago a cada hora!
Permanezco así siendo yo.
Tengo en mí una música que suena
No en mis oídos, pero adentro de mi corazón…
La vida es adelante,
lo que ha pasado, que sea!
Y ahora soy yo a conducir mis pasos
y las escojas de mi corazón.

Devoro-te 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Anular o eu emoção se faz necessário quando o assunto é coração. Melhor ser razão, pensar nas curvas inteligentes da sedução. Por o cérebro em funcionamento, devorar o saber do outro, sorver o que tem de bom, pois, assim, é possível amar com razão sem se privar da emoção. 



Em romaria 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

E há barulho, muito barulho. E há tormento, muito tormento. Fujo para dentro de mim. Não há volta. Meu eu já está tomado pela fuga. 
Sobre idas e vindas 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Quando me despedi, levei uma parte sua comigo. Desejo que também tenha deixado um pouco de mim em você...


Idealização
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Boca, desejo ardente,
Mãos, toques calientes,
Corpo, sedução pertinente,
Sexo, delírios envolventes,
Prazer, gemidos estridentes,
Você, um querer ausente.

Descompasso 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Lá em cima do piano não há um copo de veneno. Não é preciso veneno para matar. Mata-se quando se nega o momento. Mata-se quando se esquiva de compromissos. Quando a escolha feita afeta sobremaneira o outro a quem se cativou. O piano está sem som. Pobres notas emudecidas pelos dias. Não há mãos para tangê-lo. Não há melodia a compor. 


Adiante 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Tem dias que a gente tem uma saudade tão grande daquilo que ainda nem viveu que o coração fica tão apertadinho, tão apertadinho que se fecha...

Colecionador de bibelô 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Pessoas não são bibelôs, como aqueles que se vê na vitrine, gosta-se da aparência e decide levá-lo para casa. Não se brinca com sentimentos humanos, pessoas são muito mais que isso. Quando se escolhe alguém para construir uma amizade, mister se faz ter em mente que nos tornamos responsáveis por aquela pessoa e quando se tem a reciprocidade como resposta, a responsabilidade é ainda maior. A lógica de alguns em relação ao outro é mais ou menos assim: escolhe-se na prateleira o bibelô; em um primeiro momento, cuida-se dele com esmero, dedicando tempo para polir cada parte. Em um segundo momento, incia-se um processo de apontamentos de defeitos, como que se fora uma forma de dizer "olha, você não me é tão necessário assim". Depois, inicia-se o período do descumprimento. A poeira, que antes jamais poderia estar por perto, começa a assentar. Cada dia um descuido. Até que chega o momento de jogá-lo, de descartá-lo de vez. Não importa o tanto que o bibelô tenha servido para agraciar sua vida, o fim dele é o lixo. Se ele estiver com alguma parte quebrada. Maravilha! Fica mais fácil ainda rechaçá-lo. E assim, em tempos em que vivemos na era líquida dos relacionamentos, as pessoas se tornam os pequenos objetos a enfeitar por um período determinado a vida do outro. A hodiernidade exige tudo perfeito, se o bibelô quebra, lixo para ele. Pena as pessoas pensarem assim e permitirem que outras sejam feridas tão profundamente.




Rir é o melhor remédio 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
E quem disse que a vida só nos dá sorrisos... viver é difícil, quem faz a vida ficar fácil ou não somos nós. Poucos foram os motivos encontrados hoje para sorrir? Não importa! Amanhã, ainda que não os encontre, sorria... 


Poiesis 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

A poesia saiu à rua em busca de novos versos.
Que tola ela é!
Eles estão ocultos em seu coração.
Basta fechar os olhos e permitir que o sentir se amalgame com o pensar.
E eis que surgirão os versos que se escrevem como que traçando a linha do destino.

Em voo 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Um pássaro veio habitar em mim...
Segurei-o entre as mãos com todo o carinho.
Guardei-o em meu coração e busquei tirar de mim os espinhos.
Um pássaro veio habitar em mim...
Ofereci a ele minha poesia.
Ofertei-lhe o que em mim existia de melhor.
Um pássaro veio habitar em mim...
Ficou um tempo comigo, mas livre que é não sossegou.
Tentei mostrar a ele o meu aconchego e ele zombou.
Um pássaro veio habitar em mim..
Não soube cuidar dele, tampouco de mim cuido eu,
o pássaro pouco ficou comigo e perdê-lo doeu.



Entre o inverno e o espelho 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O verão já envelheceu,
o outono já mostra sinais,
ainda faz calor comum à estação passada,
no peito o inverno insiste.
O espelho é só vidro prata,
engole de imediato o que vê,
primeiro salta dele uma menina, meiga e terna,
depois, uma mulher, fogo e desejo,
ocorre, pois, que a velha sobrepõe as duas,
é dela o espelho, é dela, fria e maléfica.
A noite passou em claro,
o dia corre com olhos estalados,
no breu os lençóis são companhia
que incomoda como o beijo do devasso.
A menina tem pele delicada,
cabelo tão alinhado,
mãos que são seda,
perfume que faz sonhar.
A mulher é erupção,
fogo ardente sem chamas,
corpo a anunciar o vulcão,
seios, frutos salientes adocicados pelo desejo.
O olhar da velha é nu.
Não permite que a menina cresça,
não permite à mulher sorrir,
ela é inverno em tempo quente,
espelho na alma doente,
sofrer por demais sem omitir.

E que venham os sonhos 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Mariana era uma jovem bastante sonhadora. Tinha os sonhos mais lindos; porém, era quase impossível realizá-los. Eram altivos e não abria mão deles. Um dia, um milagre aconteceu! A garota acordou sem sonhos. Andou o dia todo com os pés no chão. Mas no final do dia, sentiu-se triste, de uma tristeza que a deixava pequenina. Então, fechou os olhos e sonhou, porque para viver precisamos sonhar. 


Canto de cura 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)
Se queres curar-te do mal que assola o peito,
deixe de lado o teu leito,
deitado nada se cura,
dor de peito é tortura,
busca nas ervas sua sanidade,
pede a Ossanha sem vaidade.
Dor de peito é dor que dói demais,
Manhã, tarde, noite, arde sem te dar paz,
Não adianta negardes que para o amor não tem prece,
Quem ama sabe a dor da qual perece,
Um chá, um banho, um cheiro talvez,
Mas se não sarar pede ajuda e Ew-ewô outra vez...

Poema de instante 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)
As coisas mais lindas podem ser tangíveis à palma da mão,
se não pode tocá-las, feche os olhos e sinta com o tato do coração...

E(u)nlouquecida 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)

E no dia que se vai, escolhas foram feitas,
revelam-se sem que se queira...
Bem que se quis ser diferente,
mas nem tudo depende da gente.
Então, precisa-se aprender a ler além do dizer,
acreditar mais no sentir,
não se permitir enganar
e por mais que se possa pirar
deixe a vida te levar...

A partida 
(por Cláudia Vanessa Bergamini)
E lá se foi o trem,
levou com ele saudade,
deixou comigo vontade,
nas mãos dele o adeus,
na minha boca o beijo se perdeu.
E lá se foi o trem,
e meu coração ficou amarrado,
não pôde deixar de sentir,
a ausência daquele que me ensinou a sorrir.
E lá se foi o trem,
a fumaça anuncia a partida,
forma uma nuvem a bloquear a visão,
em tristes sombras fica minha vida,
você agora é só ilusão...



Vero 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Quando a gente tira uma blusa velha do guarda-roupa e olha... olha... só para pensar em como era bom usá-la. Cogita-se em tirá-la fora. Depois coloca-se de volta no lugar. Acho que acreditar é isso. 

Uma reflexão 
(por Claudia Vanessa Bergamini)


São as nossas opiniões complementos da nossa existência e, de acordo com a maneria de pensar de uma pessoa, é possível constatar o que lhe falta. Para alguns, falta carinho, atenção, amor, toque, presença, para outros tudo isso importa, mas se trata apenas de um acessório sem o qual é possível prosseguir. Os indivíduos mais imanes são aqueles que têm a si mesmos em grande consideração; já as pessoas altruístas são apreensivas. Se um indivíduo tem vícios, é arrojado; o virtuoso é lânguido. E assim, vive-se, em busca do equilíbrio. Cada um de nós deseja-se pleno, completo, mas nem sempre permite enxergar o modo como o outro conceitua nossas ações.


À flor da pele 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

O depois é instante duradouro, é extensão do prazer, momento único em que o corpo responde preguiçosamente, repetindo em delírio os movimentos que provocaram a explosão de um bouquet. 

Companhia 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Em sonho me visitou... senti sua presença. Caminhou ao meu lado e sua mão esteve todo o tempo aquecendo a minha. 

Añoranza 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Acordei hoje como as flores sem perfume,
como as violetas sem beija-flores,
como a terra ansiosa pela chuva...
Acordei hoje sentindo saudade de tudo de bom que já vivi,
lembrei-me de tardes longínquas em que ouvia gritos dos pequenos ao meu redor,
lembrei-me de noites mal dormidas em que cuidar dos pequenos era minha prioridade,
não importava o sono, tampouco o cansaço, importava cuidar...
Acordei hoje sentindo saudade de domingos em festa,
casa cheia, cheiro que exalava da cozinha a apontar o banquete sendo preparado,
recordei-me de tantas vezes em que o bolo saía do forno e, ainda quente, era disputado por mãozinhas tão pequeninas...
Acordei hoje e me levantei, sem que meus pés tocassem o chão,
estranha era a sensação que me tomava,
sabia que vivia o agora,
mas meu eu tão nostálgico apenas levitava preso que estava nas saudades que ardiam dentro dele.
Acordei hoje, mas ainda durmo,
tomada que estou num passado já dissoluto,
voltar impossível,
progredir difícil,
caminhar necessário.
Por que bons momentos vão-se embora?
Deveriam ser tempo sem hora,
visita sem demora,
sorriso que não se apaga,
mão que sempre afaga,
cantiga sempre a tocar,
o primeiro encontro com o mar.


Esqueça a poesia 
(por Claudia Vanessa Bergamini) 

A poesia é também drama. É farsa em que palavras e imagens exageram e simulam. Nem sempre provoca o riso, como ocorre na farsa dramática, mas provoca a dor. Dor esta que vem do simulacro que se constrói em palavras. Vida é o real. Sem rimas. Sem métrica. Sem figuras de estilo que a floreie. Vida é lágrima, suor, sorriso, comoção, gozo, pavor, gargalhada, seja provocada ou simulada. Mas que seja vida! Esqueça os versos assimétricos, esqueça o enjambemeant, mate agora a poesia e faça você seu amanhã.





O encontro
(por Cláudia Vanessa Bergamini)
Ele, água a se mover,
ela, árvore enraizada.
Ele, a correr por aí,
ela, ser ainda paralisado.

Se ele a ensina sobre sair do lugar,
ela chora cada passo a ser dado.
Se a mostra como se tornou inútil,
ela insiste em dizer que não.
Se lhe doutrina horas e horas racionalmente,
ela resiste em buscar emoção,
não pode fugir à verdade,
pois sabe quanto esta custa ao seu coração.
Ele, ser cheio de ensinamentos,
ela, um todo vazio e sem razão.
Ele, um mar bravo e revolto,
ela, brisa e tempestade em formação.
De raízes fincadas no passado,
ela busca, a sua maneira, refazer-se,
ele, de andar austero e convicto,
vai construindo dia a dia sem perder-se.
Ela, rio manso em paradoxos intensos,
ele razão de ser de conhecer imenso.
Para ela, completam-se nos paradoxos da vida,
para ele, talvez, seja apenas uma ferida.


Som 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

A chuva é a mesma. Mas o som é diferente em cada gota que cai. 



Saciada 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Quando os oásis do sentir se secam, por meio da palavra estabeleço uma nova forma de saciar minha sede... 

Minha coleção 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Eu tenho dentro de mim uma coleção de pássaros. Alguns deles são mansos. Voam com a tranquilidade da água serena do regato. Outros são inquietos. Não podem pousar em silêncio, vez que são mar em fúria. Ainda há outros. Pequenos, doces, lentos para agir e grandiosos no sentir. Todavia, os meus pássaros são bons, às vezes exageram na bondade, aí sinto que precisam de ser ensinados a relativizar sentimentos. Eu tenho dentro de mim uma coleção viva e todos os dias tenho aprendido com ela. 





A taça 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Vazia. Seca. Assim está ela. Sobre a mesa. Solitária e sem função. Resta-lhe um traço sutil de beleza. Uma beleza efêmera como podem, num toque, tornarem-se efêmeros os cristais. Assim está ela. Solitária, porém, viva e ainda cheia de espaços a serem preenchidos. 



Evita-se 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Desnudo a alma, porque não posso retirar a pele,
evito o espelho, porque não posso olhar a alma,
desvio-me de mim, porque não posso suportar os ecos que não permitem sossegar o coração.





Passagem 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Risco o tempo no calendário disposto à mesa. Passaram meses e nem pude perceber. Corre o tempo contra a existência. Mas vivi cada momento, intensifiquei o sentir, desnudei certezas, apavorei-me com verdades, sofri com maldades e chorei com tristezas. Volto a meses e descubro, quanto de mim já se foi, quanto ainda busco encontrar e bem pouco sei do que restou. Tempo, tempo, se pode curar, assim o faça. Se pode mudar, aja também. Se preciso for, deixe tudo correr, porque o tempo só o tempo detém. 




Embriagada 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

O corpo é coerente, é fogo, é forma...
O vinho é suave, é chama que deforma...
O sonho inebria, aquece e me devora...
Teu corpo é a taça com o vinho a escorrer.
Minha língua te toca para do teu gosto sorver.



Sonhos (por Claudia Vanessa Bergamini
Sonhos são como pássaros: pousam delicadamente e vão conhecendo o território; depois, ariscos que são, voam deixando um espaço que só cabia a eles preencher. 



Construção 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O que é viver? Perguntei-me durante a madrugada. Viver é um construir-se dia-a-dia! 


Seus olhos 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Olhos carregam potes mágicos,
alguns, ao serem mirados, fazem surtir um rio de sensações, há os que provocam tempestades na alma,
outros ainda disparam vento, ventania e calmaria no coração.


Estrelas 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Estrelas vivem bem distantes,
muito longe elas estão,
ainda assim, construo pensamentos tão utópicos quanto elas são.
Estrelas têm brilho raro, 
provocam uma estranha sensação,
melancólicas, nostálgicas, intangíveis como tirar certas dores do coração.
Se as estrelas posso ouvir,
é porque real as tornei sim,
são como a presença de alguém distante, que passou a habitar em mim.
Sem lirismo 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Estou farta do lirismo melancólico que brota de um bobo sofrer de amor. Estou farta das conversas apressadas, de diálogos oportunistas, de escritos convenientes. Estou farta de chamadas não atendidas, de explicações descabidas, de simular um entender. Não transbordo a não ser de tristeza de uma dor que se chama sofrer.

Incendiados 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Durante o dia, a cidade é intensa, e nós somos somos meros transeuntes.
Durante a noite, a cidade é silêncio, e nós somos ruídos.
O corpo à noite é inércia, é repouso, e nós somos o vulcão em movimento.
Não há quietude no serpentear dos nossos corpos.
Não há letargia no mover-se de nossas mãos.
Não há languidez no correr de nossa língua.
Rápidos, sinuosos, ofegantes, inquietos e tomados pela libido, assim somos eu e você.
Incendiados amantes sob lençóis em brasa.


Ocultas 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Já disse estar enganado
quem pensa que escrevo com o coração. 
Sim, claro, às vezes, expresso dores, sentires, desejos e delírios, mas não se iluda, são frutos da imaginação.
No fundo de meu coração, guardo uma varanda recheada.
Nela há coisas ainda ocultas que continuarão bem guardadas.

Nosso dia 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
A mão do criador desenhou cada um de seus detalhes. Aos olhos colocou meiguice. Às mãos atribuiu leveza. Ao coração, afeto. Às palavras, mansidão. Cada mulher tem algo que lhe torna singular. Se áspera, em instantes volta a ser branda. Se triste, a resiliência vem brindar-lhe com a força nossa de cada dia. Parabéns a todas as mulheres! 
Clássicos e românticos 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O poeta clássico, apolíneo que é, faz de tudo para construir a idealização de uma mulher. 
Esculpe-a em versos descritivos, percebendo cada detalhe, mas ela só existe de fato, no esboço do retrato. Já o poeta romântico do sonho constrói a mulher que à poesia da forma, mas cheio de sentimentos não pode fugir à norma. Ama com intensidade e vira mesmo um irracional, porque o amor do ultrarromantico acaba logo no funeral.

Sarça ardente 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
E os movimentos sinuosos começaram lentamente, dando forma a ondas de desejos que o serpentear dos corpos desenhava. Mãos, pernas, braços, bocas e línguas, tudo era chama, tudo era calor. A sarça pecaminosa da libido invadiu o espaço, com ela, os perfumes que só o amor deixa florescer.

Dias 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Dias são feitos de desejos, de boas lembranças, de amargos sentires, às vezes tão incômodos, de silenciosas esperanças, de etéreas felicidades, de medos que insistem em ficar, de enlaces, de desenlaces, do amor insistente, saudade latente, do beijo provocante, corpo insinuante pronto para amar. Mas, sobretudo, dias são feitos da vontade de construir um hoje sempre melhor...

Movimento 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Roda, roda, roda a vida,
roda o tempo sem cessar,
e no caminho quando roda
a mente se põe a vagar.

Um susto aqui, outro ali
e em companhia da solidão
vai rodando o carrossel da vida
no pulsar do coração.

De onde vem 
(por Claudia Vanessa Bergamini) 

Faro têm os cães. Poetas têm percepções tão sensíveis que chegam a causar dor. Poetas sentem o que a vista não pode enxergar. Poetas sentem o toque da borboleta antes mesmo dela neles pousar. Percebem o inefável, mas tão caro ao coração, ser poeta é sentir sempre uma estranha/doce sensação.


Em mim 
(por Claudia Vanessa Bergamini

Você, doce canção que ouço ao longe, serenata a sussurrar para mim; você, olhos distantes, caminhos errantes, orquestra a tocar em mim. 


Barulhos 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
A cidade não dorme. Carros pra lá e pra cá. Sons de distintas origens. Pessoas que se arriscam por entre o semibreu das ruas. Meu coração não se acomoda. Sentimentos de lá pra cá. Medos de distintas origens. Sentires que se arriscam no semibreu de mim... 



Nem louca, nem poetisa
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Da palavra faço histórias,
muitas partem do que já vi ou vivi,
outras das vontades que tenho de viver.

Da palavra faço versos,
muitos são simulacros,
outros são de fato as dores que senti.

Se amo, faço versos,
Se sofro, faço versos,
Se desejo, faço versos,
Se quero enganar meu leitor os faço também.

Louca? Não, não sou!
Poetisa? Tampouco!
Sou daquelas mulheres para quem o sentir só pode ser expresso em palavras.

Quisera eu ser louca e não ter ciência do que escrevo,
quisera eu ser louca e não padecer pelo mal por que padeço,
quisera eu ser poetisa e somente usar as palavras para encantar o leitor.

Poetisa? Apenas, fingidora, de lábios vermelhos a desejar que outros tão especiais venham roubar deles o batom.

As violetas que vejo na janela são como eu, sem pássaros a visitá-las,
ainda assim, estão lá a me oferecer cores belas e viçosas.
Penetro sim no mundo das palavras, para retirar dele os pássaros que me visitam.




Das formas de amar 

(por Claudia Vanessa Bergamini)


Com pressa se pode amar... talvez não o amor que se constrói a cada dia, paulatinamente se faz em nosso ser. Mas se pode amar rápido valendo-se de certas loucuras, únicas, intensas, pois somente elas são capazes de incendiar certas brasas há muito encobertas. 





Embriagada 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

O corpo é coerente, é fogo, é forma...
O vinho é suave, é chama que deforma...
O sonho inebria, aquece e me devora...
Teu corpo é a taça com o vinho a escorrer.
Minha língua te toca para do teu gosto sorver.


Cansada 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Dorme-se e acorda-se esperando, esperando, esperando. Passa-se o dia a esperar. O pensamento insistente da persistência começa a fraquejar. 





Ferida 
(por Claudia Vanessa Bergamini)


Transborda o pote a que chamo coração. Transborda de tantos sentires distintos que não posso expressar em palavras. Fervilha um milhão de possibilidades. Ir e vir. Seguir e retornar. Caminhar ou parar. Dor. Dor. Dor. Explica-se. Mas não se retira o doer.


Adelante 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Si quiero yo caminar por una vereda desconocida, es porque ya he mirado por tiempos a una sin color, mientras mi vida en blancas nieblas cogia. Ahora necesito yo de colores múltiplos y de una sonrisa que revele para adelante de mi alma...



Ante
(Por Claudia Vanessa Bergamini)

Olhou pela janela do passado. Viu no quintal a criança a brincar. Pés no chão, cabelos desfeitos. Viu um sorriso no rosto da criança ser desenhado pelo vento, que, ao passar, levou o sorriso e deixou umas linhas traçadas na pele como ferro a marcar o gado. Olhou de novo pela janela, viu a moça a organizar a humilde casa, a correr com as panelas no fogão. O vento soprou e trouxe o sorriso, todavia passou rápido e o levou, Não sem antes deixar um vinco no corpo. Insistente, olhou pela janela. Animou-se deveras. Viu uma pequena mulher a cuidar da casa e dos filhos. Recebia com alegria aquele a quem ela destinava seus sentimentos. Sentia-se uma rosa. Era mesmo rosa, mas daquelas que o sol e o tempo vão lentamente secando. Um dia o vento chegou e o belo sorriso da mulher deu espaço a uma nova linha de expressão que se juntou a outras de antanho. Ainda houve tempo de olhar mais uma vez pela janela, não a do passado, mas a do presente. Antes não tivesse insistido para olhar. Viu o vento chegar com um sorriso, mas tão rápido durou que as marcas ficaram ainda mais sobressalentes. Vincos feitos pela navalha do desprezo, linhas traçadas pelo lápis da solidão, cortes desenhados pela lâmina da decepção. Eis o rosto dela. Perdida. Sem respeito. Sem abraço. Sentiu uma tristeza tão profunda que não quis mais olhar pela janela por medo do que pudesse ver. Encolheu-se na cama e tentou dormir, talvez dormir para sempre, pensou, seria a melhor forma de fazer o vento devolver os sorrisos roubados.


A chave
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Segurou em suas mãos a chave que recebera. Pensou em portas que desejava trancar, bem como naquelas tantas que careciam de serem abertas. Acreditava que uma possibilidade grande de viver com alegria estava em suas mãos. Chorou um choro dolorido. Um choro por tudo o que deixou, por tudo o que creu existir, mas era apenas engodo. Depois limpou as lágrimas e sorriu, porque é preciso arar a terra para que o novo floresça; é preciso deitar fora a dor para que nasça um novo dia.



Oculta
(por Claudia Vanessa Bergamini)
A cidade amanheceu tomada por um véu. O mesmo véu com que ela vem tentando ocultar a saudade, os planos, os sonhos, os desejos...

foto da minha rua às 6h40 min da sexta-feira (19/02/2016).

Das maravilhas do céu 
(por Claudia Vanessa Bergamini)


Os olhos contemplam as maravilhas do céu. O coração confirma a promessa do firmamento. As mãos se elevam para agradecer a grandiosidade de tua graça, oh Senhor!


Sem Sol 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
O dia amanheceu chuvoso. A chuva insista em cair sobre a cidade. Numa trégua das águas, o Sol havia aquecido os dias anteriores. Mas não adiantou. Gota a gota, a melodia triste chegava aos ouvidos dela. O corpo foi ficando pálido, o rosto amarelecido, o coração pulsava lentamente, corpo e alma tomados pela água insistente que invadia a cidade e não permitia que o Sol de fato brilhasse para ela.

Metamorfose
(Por Claudia Vanessa Bergamini)

Menina me fiz depois que me rendi ao que sinto por você.
Mulher me tornei para que possa me oferecer de seu sabor.


Sem volta 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Em uma esquina, encontrou a solidão. Lembrou-se de ruas anteriores em que havia ruído. Pensou em voltar, mas já não podia. Os ruídos dentro dela eram sobremaneira grandiosos...

Ponto de vista 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O mal não deve ser visto como a única forma de responder ao outro. Não há vergonha em servir, mas sim em humilhar. Não há vergonha em ser cortez, mas sim em ser mesquinho. A nobreza só pode ser medida dentro do coração de uma pessoa. Ser nobre não é fruto do julgamento de outrem, é fruto do sentir de quem age com brandura.

O novo 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Há sempre um novo ar, há sempre a possibilidade de recomeçar, lágrimas podem ser trocadas por sorrisos. Difícil? Claro que sim. Mas nunca impossível.



Um pássaro a pousar 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Pássaros são anjos que pousam diante de nossos olhos. Ariscos chegam, deixam suas cores dominar o ambiente e rapidamente voam. Nem imaginam como são admirados, nem imaginam a paz e a tranquilidade que despertam naqueles que sabem valorizar cada detalhe dessa sutil beleza. Quando ganham o céu, a delicadeza com que pousaram permanece para sempre no coração daquele que com o pássaro gostaria de estar.



Resiliente 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
É a tua beleza singela e rara que não permite que meus olhos mirem rumo a outra direção. É tua alvura que me faz enxergar a pureza sedutora de teus sutis detalhes. É a tua resiliência que me coloca em estado de euforia, com uma vontade estrondosa de me tornar um pouco do que tu és.

A luta pela expressão: a trajetória de um canto

A trajetória de um canto (Claudia Bergamini) A leitura de um cordel exige daquele que a realiza a percepção aguçada para engendr...