À procura

Vida e escrita 
por Claudia Vanessa Bergamini

A pena se mostra ao escritor como musa sedutora. Diante dela não se é mago das palavras, mas sim um cativo dos sentimentos que urgem saltar do coração para se eternizar em poesia. A vida, a morte, a dor, a alegria, o amor e o desejo, tudo é matéria seca a seduzir o escritor para que ele, com engenho e arte, coloque açúcar no amor, pimenta no desejo, leveza na vida. Com o pulsar do coração e o correr da pena, abre-se a cortina e a luz penetra casa adentro fazendo de sentires obscuros manhãs clareadas pela expressão em palavras. 






Carmim 
por Claudia Vanessa Bergamini

Te gosto ousada, atrevida, cheia de graça como é a vida. Não tire o carmim da boca jamais. Lábios vermelhos provocam desejo, incitam delírios. Te gosto assim, menina, moça, mulher demais. 




Superficial X profundo
por Claudia Vanessa Bergamini

Na superfície da alma, está tudo o que não pode ser posto nos lugares profundos e únicos. No raso, queda o que não se faz essencial, fatos, coisas e pessoas cuja atenção só merecem em instantes cada vez mais raros. Na profundidade, estão reservados os lugares para o que de fato é inestimável. O resto é conversa fiada em verdades instantâneas e etéreas, nebulosas e tomadas por uma névoa dissoluta. 





Sobre momentos e imagens
por Cláudia Vanessa Bergamini

A foto é instante único, captado às vezes tão sem querer, 
a imagem é o que sobra dos momentos que não se quer esquecer.
Fotografar é colocar em mira cérebro, olhos e coração, 
fotografar é manter viva a chama de uma ocasião. 





Sem frio 
por Claudia Vanessa Bergamini

Outono, o amarelo das folhas é por vezes o amarelo do sorriso. Se vem a estação com sua frieza fazer lembrar de tardes de outras eras, deixe de lado a tristeza, esqueça o reino das Quimeras, viva o outono, pois, dentro de nós, é possível ser sempre primavera. 





O encontro
por Claudia Vanessa Bergamini

Amanhece e, às vezes, ainda se faz noite em meu coração. Como num ensaio em que ideias, vozes, cores, cenário tudo tem de estar alinhado, encontro o sol, a me apontar por quantas vezes sou tomada pela loucura e por quantas vezes sou curada pelo chegar da luz a incendiar meu dia. 



Resoluta
Por Claudia Vanessa Bergamini

Era tristeza. A tristeza dos resolutos. Era silêncio. O silêncio dos que perderam a vontade de falar. Era névoa. A névoa a se dissipar em um sopro. Era certeza. A certeza de quem sabe que sua decisão modificará a outros. Não obstante, a prática, senão houvesse resposta, seria fato. 





Lua encoberta
por Claudia Vanessa Bergamini

Dentre os significados da palavra encoberta, prefiro incógnita... Bom ser mistério, segredo, talvez até aceite a concepção problema. Deixar-se revelar quando e se quiser. Mas permitir. Há outro sinônimo, porém, que é no mínimo intrigante: acaçapado. Ideia de haver uma carapuça a ser vestida, a fim de cobrir quem verdadeiramente se é, agachar, encolher. Encolhe-se e agacha-se para não ser visto. Constato, prefiro mesmo ser incógnita.


Solução
por Claudia Vanessa Bergamini

Para a lágrima, sorriso. Para a dor, cura. Para a tristeza, alegria. Para as perguntas, respostas. Porque sem elas não pode haver entendimento. 





Sons
por Claudia Vanessa Bergamini

Chove. Mais do que o som da chuva, ouço ruídos que insistem em permanecer. Caem como gotas insistentes e tocam meu coração. Provocam, insinuam, martelam, despertam, ferem, persistem. Chove. Mais do que o som da chuva, ouço um tilintar distante, um fio de sobriedade, talvez, ou o sussurro da loucura que anuncia sua iminência. Chove. Mais do que o som da chuva, sinto o frio que com ela vem. 



Conversa de ocasião 
por Claudia Vanessa Bergamini 

- Escolheu ficar com ela, por quê? - Não sei. Há nela uma urgência, julgo ser pressa para ser feliz. Há nela uma doçura, julgo ser da poesia a raiz. Há nela uma eloquência, parece ser uma tempestade a passar por mim que, diante dela, sou mero aprendiz.

Essencial 
por Claudia Vanessa Bergamini

Arrumei uma a uma as estrelas em um baú. Algumas estavam totalmente opacas, o tempo incumbiu-se de me mostrar como perderam o brilho. Outras ainda insistiam em manter um fio de luz aceso. Quando ia deitar fora o baú, vislumbrei uma delas a brilhar de forma incandescente. Segurei-a de novo em minhas mãos e constatei que o tempo cuida daquilo que é essencial e, por essa razão, jamais se apaga. 


Indagações
por Claudia Vanessa Bergamini
Quanto já perdi de mim por esperar demais? Quanto ganhei por amar e me dedicar cegamente ao que acredito? Quanto de mim morre a cada dia? Quanto de mim renasce por conta de quem me traz alegria?

TABULEIRO 
por Claudia Vanessa Bergamini

Jogos, vorazes ou não, consomem o cérebro e o coração. Move-se uma peça e se aguarda que o outro mova também. Aí vem a espera... O adversário, se é que de fato seja um, sabe que dele se espera um movimento, no entanto, só vem o silêncio. Jogos, vorazes ou não, servem mesmo para infernizar a mente e fazer padecer o coração. 


A bola 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Ah, bola! Como te deseja o louco por futebol. Corre atrás de ti como se fosse única deusa a existir no universo. Sedento que está, para ti desenha com os pés as mais belas manobras. Faz dos gestos, para se aproximar, verdadeira poesia. Se longe tem de ficar, enlouquece. Procura-te pela manhã com a ânsia do bebê faminto. Pela tarde, rola contigo com a alegria do menino em seu primeiro gol. À noite, põe-se lobo a uivar para te seduzir. E tu, encantada bola, a acreditar ser sempiterna. Mas, toda bola tem o momento de ser a da vez. Toda bola tem o momento de ser a deusa a seduzir seu aficionado. Algumas levam um pouco mais de tempo para sair de campo, mas quando é chegado o momento: au revoir. Se não quer, entenda, ser a bola da vez tem dia e hora para acabar. Não é eterna a poesia que emana de ti e sempre haverá outra e outra e outra a merecer a paixão avassaladora do amante. Sempre haverá outra a fazer brilhar os olhos, a estremecer a respiração, a incendiar o corpo. Logo, passado o momento, sair de campo é honroso. Descansar da jornada intensa é cabível. E o outrora louco por ti, vai descobrindo outras e outras e outras, paulatinamente, que um dia também deixarão de ser tão sedutoras. E tu não habitará cá na Terra sempre triste, porque mais do que bola, tu és forte, mulher!

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