terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Eu e meu eu


Via 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

O infinito é para onde olho hoje,
o limitado ficou para trás.
Em meus pés, ainda há resquícios do limite,
em meu coração, porém, só encontro o fazer-se do novo 
e de novo saio a farejar o que me colocará em uma vigem sem razão... 



O tempo do eu 
(por Claudia Vanessa Bergamini)


As luzes estão acesas. Os holofotes voltam-se para o eu nosso de cada dia. Entre um clic aqui e outro ali, cada eu abre o sorriso e se coloca como o grande personagem do dia. Enquanto o eu pensa em seu bem-estar, há um tu que sente, há um tu que mente estar bem.
Mas tudo bem! 
A vida corre, a lágrima escorre, a alegria morre.
O tu que se entenda com seus problemas, com seus sentires errôneos, com seu mal-humor. É preciso que o eu sorria, descanse com a alegria que o estar bem permite. Holofotes voltados a ele, câmeras a postos e que comece o show do eu: o eu sentir, o eu dono da verdade, o eu paciente...
O tu que entenda que as ironias, os dizeres duros são parte do show e, quem sabe, assim, o tu um dia possa vir a ser o eu que o eu sempre foi.



Poetas e malandros 
(por Claudia Vanessa Bergamini)


Poetas existem!
Claro que sim. 
São magos com as palavras e sabem por muita dor em mim.
Dor que é alegria, por ler algo tão singular;
dor que vem da tristeza,
porque poeta que é poeta sabe como a tristeza expressar;
dor que vem de amor sofrido,
daqueles que não saem fácil do coração;
mas poeta que é poeta sabe distinguir o amor da diversão.
Já o malandro, figura esperta, mago das palavras também é;
emprega-as com maestria e sabe provocar o gozo de uma mulher.
O malandro é sedutor, esperto e sabe como dizer
aquilo que toda mulher precisa e muito conhecer.
Não sei se amo o poeta, porque de fato não conheço nenhum,
conheci foi o malandro, doce de encantos, cheio de malícia
que das palavras soube fazer um mundo de faz-de-conta
cheio de novidades e surpresas e uma delas é o sofrer...
Queria encontrar o poeta, que das palavras sabe tirar o mais doce sentimento e quem o sente só tem a ganhar...
Poeta, poeta, sei que existe, mas bem longe de mim está, o que vi foi o malandro cheio de fábulas a contar.


Resiliente 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

É a tua beleza singela e rara que não permite que meus olhos mirem rumo a outra direção. É tua alvura que me faz enxergar a pureza sedutora de teus sutis detalhes. É a tua resiliência que me coloca em estado de euforia, com uma vontade estrondosa de me tornar um pouco do que tu és.


Sem palavras 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Então, eu, tão cheia de dizeres e cheia de saberes e cheia de quereres, sinto-me de mãos vazias, de mente vazia e de coração vazio. Uma inquietação vem me amedrontar, um incômodo vem azucrinar minha cabeça e me lembrar de tantas vezes em que me sentava para nada e, sem poder me controlar, rabiscava na folha ou na página digital em branco. Eu me via diante de tantas palavras. Não estou morta tampouco silenciou em mim o que sei, o que sinto. O fato é que estou sem palavras. Elas dançam em minha mente, elas se acomodam em meu coração, mas não vêm à ponta dos dedos para virar a poesia de outros dias. Pensei nos acontecimentos do mundo, refleti sobre os fatos locais, debrucei-me sobre mim mesma e constatei que a poesia carece de um tempo para acomodar sentires, pensares, dizeres e quereres, passado esse tempo, ela se apresenta como a bela dona a encantar a poetisa, como a musa perfumada a por em êxtase quem dela se aproxima, como a diva a seduzir a escrita da moça que tanto a tem desejado.



Sem hora
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Não sei por que, assim, no meio da tarde, o corpo arde e me dá uma vontade louca de beijar sua boca.

Fogo 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Dizem que o beijo na boca é um momento de amor,
acho que de fato é um instante de calor.




A arte, a verdade e a verdade de fato
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Poesia é arte, senti-la faz parte,
mas nem sempre escrevo o que sinto.
Se feliz estou, posso escrever textos dos mais tristes,
se sozinha caminho, posso simular amores e calores,
se triste me ponho, posso sorrir e por a sorrir meus leitores.

A arte é realidade à medida que permite perceber a vida, o sentir.
A arte é a musa que toma a realidade para transpô-la em imagens ou palavras.
A arte é viva e, para tanto, imita a vida.
Não a vida cotidiana, banal, mas a vida que se faz no interior da banalidade, nos bastidores do que é cotidiano.
O artista olha para o trivial e dele extrai a essência a que chamamos poesia.
O poeta olha para o banal e dele compõe versos de fôlego, de lágrima e amor.
O público olha para a vida e nela não vê graça, então volta-se para a arte e dela extrai os sentidos necessários para que a vida lhe faça sorrir.


Êxtase 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Diante da tela contemplo teu rosto. Olho teus olhos e neles persigo a chama que a mim chega e me põe em brasa. Minha carne a tremer olha para ti e sabe reconhecer o teu querer devorador. Num instante único o meu corpo sente o teu corpo. Parte a parte deste continente da cor da noite a me tragar como o mar bravo a devorar suas presas. Presa tua sou porque quero. Dono meu tu és porque depois que fui tua não desejei mais pensar em ser de outro. É no instante em que meu gozo se concretiza que meu gemido de fêmea denuncia como sou tua. Minha mão passeia por minha flor e busca gota a gota do sabor único que tu fazes emanar de meu corpo. É depois de serpentear febril que anseio por ver as estrelas desenharem a via láctea perfumada e densa a me mostrar que nosso momento de êxtase chegou ao fim.




O assassino 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Na madrugada a dentro,
com gosto e lamento,
vai matando mosquitos 
para acabar o tormento

Definição 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Em minha escrita deixo muito ou pouco de mim. Às vezes, meus dedos me fazem denunciar sentires íntimos que deveriam ser trancados em um lugar secreto, depois a chave deveria ser lançada ao mar e, somente se os deuses permitissem, é que alguém poderia encontrá-la. Já em outros momentos, gosto de simular situações, as palavras me são caras e as emprego para criar a epifania necessária à alma. Mas neste momento sou simulacro, sou poeta e, como tal, um fingidor. O que sou? Quem sou? O que desejo? O que procuro? Ninguém sabe e tampouco saberá. Pode me fazer perguntas, hipotetizar situações, mas me gosto enigma que só se desvenda quando quer. Deixe-me ser o que sou. Não crie circunstâncias para me decifrar, pois posso ser esfinge a devorar. Se pensa que sou enigma. Sou sim, mas só a quem assim me faz agir.




Sem volta 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Quanto de saudade havia naqueles olhos, quanto do brilho daqueles olhos já havia se apagado. Teresa olhava para suas mãos, assim tão macias, assim tão delicadas, assim tão vazias. Já sentira o calor de outras a segurar as suas, mas fora na solidão e no silêncio que ela descobriu a felicidade. Entrega a outrem: uma mentira; doação: uma pilhéria. Seus caminhar era sem companhia, seu fazer e desfazer a mesa do café era ausente, mas dentro dela havia paz. Quando mirava para o lugar vazio ocupado outrora por ele, lembrava-se de como vivia uma espera dolorosa e infinita. Angústia e ansiedade eram essas sensações que a espera lhe provocava. Agora tudo é manso, tudo é colorido à sua maneira, com vagar passam as horas, com lentidão correm os dias, mas dentro dela há certezas sobre sua escolha e alegria quanto ao seu novo mundo. A vida lhe ensinou que conviver bem consigo mesma é um presente inesgotável de prazer.


Audaciosa 
(por Claudia Vanessa Bergamini)

Não é preciso estar calor para que o corpo dela sinta calores. Basta olhar para ele que o desejo inflama. Sem timidez, ela se entrega e permite que o orvalho do prazer venha lhe visitar e lhe lembrar o quanto seu prazer depende daquele homem. 

Decidida
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Desceu a escada sem olhar para trás, certa que estava de que, se olhasse, voltaria a subir degrau por degrau e mais uma vez se entregaria ao calor daquele abraço. Recomeçar era a palavra de ordem; esquecer era a ordem que dera a si mesma. Subiu o olhar para o horizonte, elevou o ombro e caminhou segura. Ainda sente vontade de olhar para trás, porém, mais vontade ainda sente de ser feliz.




O tempo 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O tempo somente passa, levando parte de mim.
Não volta, nem devolve nada, somente consome o sentir. 
Em sua passagem deixa sulcos: no rosto, nos olhos, nas mãos,
pior ainda são aqueles que ficam no coração.
Escolho o que faço com o tempo e a importância que tem para mim.
Escolho para quem o dedico ou para quem ponho fim.
Nada contra ele se pode fazer,
mas minhas escolhas determinam o tempo que vou dedicar a você.
Se escasso demais ele anda,há de se organizar o sentir,
não posso conceber a ideia de que não há tempo para mim.


Canção da minha rua e do vento 
(por Claudia Vanessa Bergamini) 

A rua tinha crianças, o tempo as tornou tão iguais aos adultos e suas mesmices em que sonhos não cabem mais. A rua tinha flores, o vento as levou para longe, sem cor ficaram os jardins, sem brilho ficaram os homens. A rua tinha barulho, com os dias foram cessando, na rua as árvores secaram, o vento as folhas foi levando. A rua ficou tão sem vida, mas sopra ainda nela um vendaval, vem com força e leva dia a dia o que sobrou no quintal. A rua tornou-se vazia, nem mesmo ruídos há mais, quando passo por ela me lembro dos dias de carnavais.





No ar
(Por Claudia Vanessa Bergamini)

Segurou nas mãos dela de uma forma tão intensa que ela nunca mais pode deixar de sentir a sensação de segurança de que tanto carecia. Um dia, ele decidiu soltá-las, e até agora as mãos dela dançam no ar a dança triste da solidão.



Afinados 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Tomou do violão porque precisava conhecê -lo. Seus dedos deslizavam e iam, pouco a pouco, dando harmonia ao conjunto. A voz foi se encontrando com o ritmo e ela, que a tudo assistia, só pode confirmar que voz e música pertenciam à alma dele e serviam a ela como bálsamo a abrandar o coração a galope.


Assimetria 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O engenheiro faz o traçado, minucioso que é, estabelece critérios e consegue, por meio deles, o design simétrico, medido ponto a ponto. O arquiteto faz o esboço, ousado que é, deixa de lado o tradicional e busca em curvas bem disformes fazer o que o amor faz no coração, transformá-lo em obra assimétrica com doses homéricas de irregularidade.



Saudade 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Saudade é um bichinho irritante, praticamente um incômodo a doer, se sente quando algo intrigante se coloca no peito a arder. Saudade se sente daquilo que um dia se viveu com alguém, com quem se compartilhava de tudo e momentos ardentes também.

Onde está você? 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Há um você dentro de você. Sim, eu sei que há. É um você diferente desse você ausente. É um você de alegria que a todo dia me colocava a sorrir. É um você eloquente que ensinava à gente o modo mais simples de ser. É um você doente, de uma doença rara que se chamava descobrir. Vejo em seus olhos todo dia o você que você já foi, só não posso precisar se ainda haverá para mim aquele você de amor.

A luz
(por Claudia Vanessa Bergamini)
O sol tece a manhã, sua luz vai incendiando o dia. Nos olhos dela, a luz do sol nunca se apaga, nem mesmo quando a noite vem derramar sua escuridão... 


Fragmentos 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Há um tempo recolho pequenos pedaços de um doce muito raro do qual provei. Depois que o levei à boca, não pude mais deixar de desejá-lo, tampouco consegui provar de outro. Ao despertar, ponho em mim a certeza de que, mais do que fragmentos, vou me deparar com o todo. Depois me aquieto, e só penso que parte também é todo, mas ao mesmo tempo confirmo que parte só existe com o todo.





O último instante 
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Na última narrativa que compôs, lembrou-se de sorrir. Tomou o frasco em suas mãos de forma resoluta e do conteúdo com a certeza de que um tempo de sorrisos estava por vir.

Solus
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
Eram dois.
E sonhavam juntos o mesmo sonho. 
Agora, sozinha, ela vai juntando fragmentos de si
para que o sonho continue embalado pela doce canção que lhe deu forma.

Notas sobre a morte 
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
A morte se apresenta como maldita e ao mesmo tempo venerada, por um lado é o eco de um tempo de tristeza e dor e, por outro, representa a libertação de uma vida tomada pela aflição e pela angústia.

Notas sobre a morte II
(Por Claudia Vanessa Bergamini)
O homem ordinário, comum , despido de seus saberes, afazeres e quereres, assim é o agir da morte sobre o ser.
A morte que mata o princípio e cessa a necessidade,
que leva ao choro o que fica e à paz o que vai.
Morte, morte... que desejo impossível está por trás de você?
O que faz você com o homem?
O futuro é ilusão, o passado é esfacelado, o presente é o que importa?
Nesse teatro a que se atribui o nome vida, de ti, oh morte, muitos se esquivam; e outros, a teus braços querem se entregar.
Por isso, conjugam os verbos de seu discurso, litera a litera até que somente fique na mente a certeza de que memento quia pulvis es.
Pueril
(por Claudia Vanessa Bergamini)
Me visitou um passarinho raro, cantou uma bela canção só para mim, meu rosto ele tocou de leve e fez a vida sorrir assim.

A luta pela expressão: a trajetória de um canto

A trajetória de um canto (Claudia Bergamini) A leitura de um cordel exige daquele que a realiza a percepção aguçada para engendr...