domingo, 22 de abril de 2012

Crônica Um brinquedo para ser inventado


Um brinquedo para ser inventado
Ultimamente, ando a pensar nas brincadeiras de roda, na amarelinha, no trava língua, no
pega-pega, enfim... Percebi-me, horas a fio, recuperando da memória os jogos que eram, para as
crianças, símbolo de diversão.  
Os tempos, porém, são outros. A amarelinha foi perdendo lugar para as teclas do videogame; o pega-pega virou coisa do passado. Melhor é brincar de polícia e ladrão, um correr atrás
do outro de arma em punho e com o grito do policial na garganta: “Mãos ao alto!”, “Solte a arma!”.
Arma? Que arma? Onde estão os carrinhos de rolimãs, a bola para o futebol, o basquete
ou a queimada?
Nas últimas décadas, sobretudo, na primeira década do século XXI, as crianças deixaram
de perceber que a alegria pode vir de uma simples corrida ou de jogos do tempo de nossas avós.
Colocaram, nas mãos dos pequeninos, armas e lhes disseram que eram para o divertimento. Assim, foi preciso aprender a manusear os novos brinquedos, a se divertir com os novos
meios. Com o tempo, adolescentes, adultos e até crianças perceberam que podiam usar esses
brinquedinhos para roubar, para assustar e, assim fizeram, semeando medo por muitos lugares.
Quem teve a ideia de transformar arma de fogo em sinônimo de brincadeira não foi ‘um
sujeito genial’, como disse Drummond sobre o inventor do tempo em um de seus poemas.
A nós só nos resta esperança de que surja um inventor de brinquedos para criar um mais
do que especial, capaz de disparar beijos, abraços e amor ao próximo toda vez que for acionado.

Claudia Vanessa Bergamini

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